O mercado, aos poucos, vai conhecendo o estrago que a alta do dólar provocou nos resultados das empresas no primeiro semestre. Uma prévia com os balanços divulgados até agora mostra queda de 19% no lucro acumulado no período. O ganho líquido total recuou de R$ 2,663 bilhões para R$ 2,154 bilhões na comparação entre os primeiros semestres de 2001 e 2000, considerando os números de 12 companhias abertas. A receita líquida e a geração operacional de caixa (Ebitda) melhoraram 13,4% e 12,4%, respectivamente, mas as despesas financeiras líquidas derrubaram o resultado final. Agravadas pela disparada do dólar, as perdas financeiras somaram R$ 1,755 bilhão, com alta de 204% frente ao primeiro semestre do ano passado. Somente na Companhia V ale do Rio Doce, o impacto em 2001 foi de R$ 662,8 milhões, com aumento d e 717,9%.
“Sem o efeito do câmbio, no entanto, houve uma melhora no desempenho operacional”, observou Lika Takahashi, analista-chefe da Fator Doria Atherino. A opinião é compartilhada pelo analista-chefe da ltaú Corretora, Reginaldo Alexandre: “Até maio, o mercado esperava ‘cresci mento de cerca de 4% e as empresas se beneficiaram desse ambiente.” Ele acrescentou que as exportadoras vêm aumentando as vendas desde o ano passado, com o real mais baixo. O analista dissê ainda que os preços no mercado interno foram maiores no primeiro semestre do que em 2000.
Os analistas, porém, não chegam a um consenso quando o assunto é o grau de exposição ao dólar em relação aos anos anteriores. Para Lika, não houve uma procura maior por hedge (proteção) cambial a partir de 1999, quando uma desvalorização de mais de 46% no real teve efeito devastador nos balanços. Alexandre, do ltaú, acha que as empresas buscaram hedge, mas a proteção não foi suficiente devido ao aumento do custo. Expectativa – Em relação ao terceiro trimestre, os analistas estimam uma inver
são do quadro, mas com resultados pouco animadores. Se uma eventual queda do dólar irá amenizar a pressão nas dívidas, a crise energética e na Argentina, os juros altos e a incerteza política tendem a provocar sérios prejuízos. “O resultado operacional e a receita líquida das empresas devem cair”, afirmou Marcelo Mesquita, do UBS Warburg. Alexandre, do Itaú, concorda: “Quem atua no mercado interno venderá menos, porque a economia também crescerá menos.”