A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) conta com uma fatia significativa de empresas pouco compro metidas com o mercado, ou que não precisam mais dessa fonte de recursos. A conclusão é de especialistas do setor, após análise da parcela de ações das companhlas em circulação – conhecida como “free float”. Pesquisa realizada pela Economática (www.economatica. com) mostra que, de 273 empresas avaliadas, mais da metade (55%) possui “free float” abaixo de 30% do total de ações. E apenas 27 têm mais de 70% de seus papéis disponíveis para negociação na bolsa.
O estudo é baseado em dados fornecidos pelas próprias companhias nos últimos informativos anuais disponíveis, referentes a 1999. “Em geral, as empresas que possuem ‘free float’ baixo não precisam acessar o mercado de capitais. Não necessitam desses recursos para investir”, disse o chefe de análise da Itaú Corre!Ora, Reginaldo Alexandre. Os especialistas lembram que muitas companhlas decidiram abrir o capital entre as décadas de 70 e 80, quando o Brasil contava com inflação muito alta.
Nessa época, as captações pelo mercado aberto eram consideradas uma maneira barata de pagar dívidas e obter financiamentos. Esse fato fez com que muitas companhlas não desenvolvessem uma cultura de mercado. Alexandre lembra ainda que, em alguns casos, o número reduzido de ações em circulação pode refletir a existência de um controlador estrangeiro: ”Historicamente, o governo saiu de uma série de negócios, posteriormente assumidos por empresas estrangeiras que optaram por fechar o.capital ou lançar recibos no exterior”. Segundo ele, muitas companhias não fazem questão de que as ações reflitam o real valor de seus negócios.
”Dessa forma, os controladores podem usar o preço baixo de seus papéis para readquiri-los.” O fechamento de capital é o principal risco apontado pelo mercado em conseqüência dessa estrutura. O “free float” reduzido abriria espaço para que essas empresas deixassem de negociar em bolsa. “Esse cenário é típico de mercados emergentes, o que definitivamente é ruim”, completou o estrategista para América Latina da Salomon Smith Bamey, em Nova York, Geoffrey Dennis. Ele acrescentou que muitas das empresas com free float baixo possuem controle familiar e são, tradicionalmente, menos transparentes.
De acordo com Dennis, o número de ações em circulação no mercado voltará a crescer. Para isso, a Bovespa conta com alguns impulsos, como a adoção de práticas de govemança corporativa pelas empresas. ”Essa mudança, no entanto, virá somente no longo prazo”, disse. Na opinião de Dennis, outros fatores que devem contribuir para o crescimento do mercado são a venda de ações detidas por famílias controladoras, a entrada de novos fundos de pensão e a diminuição dos custos de negociação no Brasil.