Especial: IRFS trará revolução nos lucros das empresas

Data Original: 28/02/2008
Postado em: 31 de outubro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Estadão - Reportagens

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Os balanços das companhias abertas brasileiras passarão por uma verdadeira revolução quando as normas contábeis forem inteiramente convertidas para o padrão internacional,o IFRS. Segundo especialistas, as mudanças são significativas, mas não é possível garantir que haverá tendência de alta ou queda em lucros ou patrimônios.

Um fato é certo: Gerdau e Grendene, que já fizeram conciliações de resultados em 2007, tiveram altas nos ganhos líquidos. Além disso, uma pesquisa internacional mostrou tendência de aumento nos lucros dos bancos europeus quando estes tiveram de se adaptar, no balanço de 2004. Na abertura dos números é possível ver o efeito de dois dos pontos mais citados por especialistas como cruciais nas mudanças: a contabilização do ágio e os incentivos fiscais.

Muitas novidades contábeis já estão previstas na nova lei do setor, aprovada no fim do ano passado,e outras virão até 2010. O objetivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é que todas as sociedades por ações tenham seus balanços adequados às normas contábeis internacionais até aquele ano.

No balanço de 2007, a Gerdau indica patrimônio líquido de R$ 11,420 bilhões nas normas brasileiras, mas R$ 16,642 bilhões em IFRS, o que inclui R$ 3,929 bilhões em participações de minoritários. Já o lucro é de R$ 2,288 bilhões em norma local, contra R$ 4,310 bilhões pelas regras internacionais. Entre os ajustes positivos estão efeitos de ágio, de opções de compra e venda de ações e reclassificação cambial, além da participação dos minoritários.

Na Grendene, o patrimônio varia pouco: R$ 1,109 bilhão pela regra local e R$ 1,128 bilhão em IFRS(acumulado até setembro). O lucro, no entanto, dá um salto, e passa de R$ 75,925 milhões para R$156,2 milhões. Foram contabilizados mais R$ 84,374 milhões em incentivos fiscais. “Os montantesincentivados são registrados diretamente a crédito do patrimônio líquido, sub-conta de incentivos fiscais, considerados como subvenção para investimentos. Para fins de IFRS os incentivos são apresentados em resultados de exercício”, diz a empresa nas notas explicativas.

Vanderlei Minoru Yamashita, sócio da área financeira da Deloitte Touche Tohmatsu, afirma que as alterações mostraram em geral aumento nos lucros dos bancos europeus, quando estes tiveram que adotar o IFRS. O impacto do ágio foi crucial.

Ele conta que o Instituto dos Auditores Independentes da Inglaterra e do País de Gales (ICAEW) realizou um estudo, exigido pela Comissão Européia, sobre o impacto da implementação do IFRS na União Européia. Num levantamento selecionado pela Deloitte com 11 bancos e números de 2004, verifica-se que, de todos, apenas dois registraram perdas de resultado com a transição: Barclays e ING. Esse último teve impacto de amortizações de software. Já os principais ganhadores foram Credit Agricole, BP e RBS. O primeiro contabilizou benefícios de ágios em compras.

Em relação ao patrimônio, com base no mesmo ano mas levando em conta oito instituições financeiras, o impacto foi diferente. Quatro delas viram aumento nessa linha do balanço, e a outra metade apurou queda. No primeiro grupo, BP e Dexia tiveram benefício de reversão de reservas não específicas. Já o Barclays perdeu com a contabilização de opções em ações próprias. Entre as mudanças relevantes está o aumento significativo do total dos ativos e passivos.

Adaptação

Muitas companhias brasileiras já divulgam balanços em normas estrangeiras, ou fazem a conciliação. A esmagadora maioria, no entanto, o faz padrão contábil dos Estados Unidos (US GAAP). Isso porque quem deseja negociar ações naquele país é obrigado a apresentar os resultados financeiros por este critério.

Outra exigência de balanços internacionais veio com o Novo Mercado da Bovespa, segmento de listagem que prioriza transparência e governança corporativa nas companhias. Pelo regulamento da bolsa, a empresa deve elaborar demonstrações financeiras em IFRS ou US GAAP, que deverão ser apresentadas na íntegra, em inglês. Outra opção é divulgar, também em inglês, a íntegra das demonstrações financeiras, relatório da administração e notas explicativas, elaboradas de acordo com a legislação societária brasileira, acompanhadas de nota explicativa adicional com conciliação de resultado do exercício e do patrimônio líquido em IFRS ou US GAAP.

 

A Bovespa explica que, atualmente, as empresas têm prazo de dois anos para apresentarem os balanços diferenciados, a contar de sua entrada no Novo Mercado. O último levantamento da Bolsa,feito em junho de 2007, tinha poucas companhias, já que contava apenas com as que ingressaram em 2004. As empresas que entraram a partir de 2005 têm até abril de 2008 para divulgar os balanços em normas estrangeiras. Pela pesquisa, das oito que se adequaram, três escolheram oIFRS ou reconciliação: Grendene, Porto Seguro e Energias do Brasil. As demais divulgaram em USGAAP: CCR, Natura, CPFL Energia, Sabesp e Dasa. (Aline Cury Zampieri)

 

 

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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