Acordo entre Oi e PT pode ser desestímulo a minoritários

Data Original: 28/01/2011
Postado em: 31 de outubro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Estadão - Reportagens

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Os últimos detalhes anunciados pela Oi para a entrada da Portugal Telecom (PT) na empresa brasileira revelam um acordo em que os controladores ligados aos grupos Andrade Gutierrez e La Fonte embolsaram um prêmio bilionário por suas fatias, os fundos de pensão botaram mais dinheiro no bolso do que o previsto por suas vendas e os acionistas minoritários acabaram menos estimulados a participar do aumento de capital que a companhia fará nos próximos meses, segundo fontes que acompanharam a operação.

Os minoritários que não participarem do aumento de capital serão diluídos e terão sua participação no lucro da empresa reduzida. Quanto menos minoritários participarem, melhor para a PT, que se beneficiaria de uma sobra maior de ações a preços mais competitivos.

“Os portugueses pagaram um prêmio muito alto pelos papéis dos controladores, dez vezes mais do que o preço de mercado”, diz o presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC-SP), Reginaldo Alexandre. “Para fazer sentido, seria preciso muita sobra no aumento de capital.”

Um dos principais destaques da operação, segundo analistas, foi o fato de ter sido reduzido o aumento de capital previsto na Telemar Participações (TmarPart), holding que controla a Oi. Quando o negócio foi anunciado num termo de intenções, em julho do ano passado, a previsão era de que seria feito um aumento de capital de até R$ 4,2 bilhões na holding, a ser subscrito pela PT e demais acionistas. Nesta semana, este valor passou para R$ 761,2 milhões. “Quando o acionista controlador resolve botar menos dinheiro, desestimula o minoritário a botar também. Se tem menos gente para comer, sobra mais bolo”, diz um analista que prefere não se identificar.

Bolso. Segundo uma fonte ligada aos controladores, essa diferença de R$ 3,4 bilhões se explica pela decisão dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica) e Petros (Petrobrás) de não participarem do aumento de capital. Isso reduz o montante que será aportado nos aumentos de capital que acontecem em cascata na intrincada árvore societária da empresa. Mas um analista gabaritado de mercado tem outra interpretação. “Para onde vai esse dinheiro? Vão botar no bolso”, afirma.

Uma fonte ligada à operação garantiu que os fundos de pensão e o BNDES receberam ao todo R$ 1,8 bilhão pelos 12,1% vendidos para a Portugal Telecom. O valor é, proporcionalmente, 36% maior do que o volume de R$ 1,1 bilhão anunciado anteriormente para a venda de 10% de participação direta. Não ficou claro se o montante inclui também a parte da empresa de call center Contax, da qual os fundos se desfizeram para a fusão da empresa brasileira com sua equivalente Dedic, da Portugal Telecom. O negócio será concluído até maio.

Em nota, a Previ informou que receberá R$ 290 milhões pela venda de 2,6% no bloco de controle da Telemar Participações, passando para 9,69%. Apenas como prêmio pelo compromisso de manterem intactas suas participações por cinco anos, La Fonte e Andrade Gutierrez receberam R$ 540 milhões cada uma. O valor é quase o mesmo que inicialmente os fundos receberiam para vender 10% de participação (R$ 1,1 bilhão), sem precisar vender nada. Alexandre, da Apimec, diz que o preço pago por ação aos dois controladores foi de R$ 333 – dez vezes acima do valor de mercado.  Sabrina Valle Colaborou Mônica Ciarelli.

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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