O labirinto da petroquímica

Data Original: 13/05/1999
Postado em: 7 de novembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Gazeta Mercantil - Reportagens

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Uma tarefa di­fícil tem o BNDES pela frente na área da pe­troquímica. O setor cresceu de forma desorganizada com o beneplácito do governo. A indústria brasileira está longe da escala de produção dos grandes grupos internacionais.

Pior, montou-se ao longo dos anos um emaranhado de participações tão intrincado em tomo do principal pólo, em Camaçari, na Bahia, que só mesmo com muito boa von­tade será possível desatar o nó.

O BNDES vislumbra um cenário a curto prazo onde predominem dois grandes pólos de capital nacional no País. O da Copene (justamente em Camaçari) e o da Copesul, no Rio Grande do Sul. Um terceiro pólo sur­giria a médio prazo no eixo São Paulo (Pq U) – Rio de Janeiro ( está programado para ‘ 2002/2003 para produção de plástico).

A indústria seria verticalizada nos dois principais pólos. Em uma mesma empresa se agregariam as satélites que gravitam hoje em tomo da Co­pene, produzindo tipos de insumos diferen­tes e tendo proprietários diferentes. E um verdadeiro xadrez (ver quadro). As conversas com os grupos interessados começaram há algum tempo mas ninguém sabe hoje até quando vão se arrastar. Não há dúvida de que o BNDES tem cré­ditos que somam R$ 2 bilhões junto ao setor. É um importante trunfo para induzir a mudança.

“Não queremos apoiar nenhuma planta nova dentro da atual estrutura, mas estamos dispostos a entrar com novo financiamento a partir de uma reestruturação”, indicou a esta coluna o superintendente da área de opera­ções indústriais, Carlos Gastaldoni. Sabe-se que a Odebrecht, principal em­presa do setor, está disposta a sair da Triken, produtora de insumos à base de cloro e sódio que detém 16% do capital votante da Nor­quisa, controladora da Copene. Não é mau negócio para a Odebrecht. Afi­nal, a Triken tem baixa rentabilidade e car­rega uma dívida de mais de R$ 1 bilhão.

O grupo Ultra é tido como o forte candi­dato a assumir o controle da Copene. Ocorre, porém, que a rede de interesses é imensa. Quem pular fora, obviamente, vai querer receber algum por isso. É preciso re­fazer o acordo de acionistas e definir o papel da Petroquisa na nova estrutura. Estaria ela disposta a permanecer na Co­pene, aportando novo capital?

Estaria o BN­DES disposto a receber as NTN da privati­zação que a Petroquisa tem em carteira (são cerca de 5 bilhões de papéis, rendendo 6% ao ano) como pagamento de parte dos cré­ditos que tem com o setor? Essas são algumas dúvidas relevantes. Mas não são as únicas. Há outro ponto a ser equacionado que, pasmem, envolve o Banco Central.

Trata-se do que fazer com a Econômico Empreendimentos, uma empresa cujos ati­vos estão sob a administração do BC desde que o Banco Econômico desapareceu, no, se­gundo semestre de 1995. A Econômico Empreendimentos detém 64% das ações da Conepar, que por sua vez, através da Petronor, é a maior acionista da Norquisa. O BC já tentou leiloar a Econômico Em­preendimentos vária vezes no passado, sem sucesso.

Tudo se complicou no final do ano passado quando a Odebrecht adquiriu a parti­cipação do American Express Bank na Co­nepar (36% ), passando a ter direito de pre­ferência na venda do controle da empresa. “A Odebrecht ficou com essa carta na manga, isso é um complicador para o mo­delo de reestruturação que o BNDES tem na cabeça”, observa Reginaldo Alexandre, especialista em “equity research” no setor de petroquímica do Banco BBA Creditanstalt.

Como não bastasse, há ainda outros as­pectos relevantes que estão obscuros. Por exemplo, que destino se reserva à refinaria Landulpho Alves, da Petrobras, que alimenta de nafta a Copene? Agora que a Agência Nacional do Petró­leo (ANP) acenou com a venda de parte das refinarias da Petrobras, nada mais lógico do que integrar aquela unidade à estrutura da Copene. E o que acontece com a maioria dos gran­des grupos internacionais do setor petroquí­mico. Muitos atuam desde a ponta da explo­ração de petróleo até a confecção dos ma­teriais plásticos mais sofisticados.

Antecipam-se, pois, aqui alternativas pa­ra o destino da Landulpho Alves. Sua ven­da, se decidida, faria parte de um acordo di­reto entre Petrobras, BNDES e os sócios da Copene? Estaria sua absorção relacionada às negociações envolvendo a presença da Petroquisa na Copene? Ou seria a refinaria levada à venda em leilão, de forma trans­parente? Os planos do BNDES podem ser atrope­lados pela dinâmica do mercado. Os setores de petróleo e de petroquímica são focos po­tenciais do interesse do capital estrangeiro. Não é para menos. Dados do BBA mos­tram que o consumo doméstico de plástico dobrou em dez anos no Brasil. Em 1990 era de 10,2 quilos por ano, per capita. Em 1997 passou para 18,8 quilos per capita. “O plástico está presente em tudo, seu consumo cresce no Brasil e na Argentina acima do PIB”, arremata Alexandre. (Maria Clara R. M. do Prado)

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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