A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), desde o final da década de 1990, presta um serviço de orientação aos investidores. Ao longo deste período, a entidade chegou a atender aproximadamente 19 mil demandas em um único ano, reflexo do aumento da procura do mercado financeiro como alternativa de investimentos para os cidadãos.
A expansão da economia nacional e o desenvolvimento do mercado interno nos últimos anos contribuíram para ampliar o número de novos milionários que entram no segmento de private banking com um volume generoso de recursos para aplicações. Mas, desbravar novos mares requer mais do que coragem.
Para José Alexandre Cavalcanti, superintendente de proteção e orientação aos investidores da CVM, o aumento do número de pessoas com maior capacidade de investimento não significa que todas saibam como aplicar os recursos. “Um número expressivo delas não tem informações para investir e precisa tomar cuidado para não cair em golpes. Por isso, a primeira sugestão é se informar antes de investir”, explica.
De acordo com o professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, a maioria dos novos milionários está ligada ao mercado empresarial, acaba investindo no próprio negócio e grande parte toma decisões por conta própria. Ainda há receio em confiar nos especialistas. “Falta a esses investidores a cultura de investir no mercado financeiro, sobretudo no de ações. Por isso, é recomendável que contratem especialistas para orientá-los a diversificar suas aplicações, reduzindo os riscos”, pondera.
Justamente por virem do mercado empresarial, Christiano Ehlers, superintendente do private do Santander, afirma que a grande preocupação desses novos clientes está ligada a questões de assessoria patrimonial e sucessão. Além disso, eles começam a perceber que o mais importante é entender se os investimentos estão adequados às suas expectativas em relação à liquidez, risco de mercado e de crédito. “Como, geralmente, essa clientela tem conta em mais de uma instituição, o mecanismo adotado para avaliar essas ponderações é conversar com os gestores dos diferentes bancos e formar uma opinião a partir da experiência deles”, explica Ehlers.
Reginaldo Alexandre, analista de investimentos, afirma que mais do que o crescimento da economia esse posicionamento é reflexo das transformações sociais. “O mercado, por ser muito mais complexo, está mais segmentado e a informação está mais disponível do que no passado. Tudo isso é um processo pelo qual a sociedade passa: à medida que a economia cresce, as pessoas procuram se qualificar, ter acesso à informação, e isso proporciona um mercado mais dinâmico e eficiente”, diz.
Além de buscar informações, o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Mario Amigo, afirma que os novos milionários, de alguma forma, têm procurado aumentar os conhecimentos em finanças. “Houve um aumento gradativo da participação em cursos, muitas vezes direcionados ou focados em assuntos que dizem mais respeito aos interesses desses investidores, como, por exemplo, de derivativos, estruturação de derivativos, de renda fixa”, avalia Amigo. “Eles têm buscado não só entender o produto, mas procurado aprimorar os conhecimento em finanças e economia. As discussões com esse tipo de pessoa têm alcançado, gradativamente, um nível mais elevado”, explica. (Por Angela Ferreira)