O ano de 2012 não vai deixar saudades do Brasil para os investidores. É o que mostra uma pesquisa feita pelo Valor com os índices MSCI para Europa, EUA, emergentes e global. Até o dia 20 de dezembro, o índice MSCI Brazil era o único da lista que registrava depreciação anual, de 2,7%. Todos os outros marcavam ganhos: MSCI Europa subiu 16%; no caso do mercado dos EUA, a alta foi de 15%; para os emergentes, o resultado ficou positivo em 14,8%; e o MSCI Global somou 14,3% de elevação.
O índice MSCI é um importante referencial usado por centenas de fundos de investimento em todo o mundo para suas decisões.
Segundo analistas, uma série de quebras de expectativas e de alterações regulatórias afastou os investidores do Brasil. O câmbio piorou a situação, já que todos os índices citados são cotados em dólares. Com isso, o país, que prometia crescer 4% este ano – mas que deve fechar com expansão próxima a 1% -, viu os investidores baterem em retirada.
“Houve muita incerteza em relação à economia brasileira e os últimos números confirmam um certo desapontamento com o ‘milagre brasileiro’ dos últimos anos”, diz o professor de finanças, Arturo Bris, da escola suíça de negócios IMD. “O dinheiro europeu se moveu para a Ásia, com o medo de que o governo brasileiro ajudaria a economia local pela depreciação do real, cuja força tem ameaçado o setor exportador.”
“Tivemos uma sequência de frustração de expectativas em relação ao crescimento do país”, reforça o sócio da consultoria Proxycon e presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais em São Paulo (Apimec-SP), Reginaldo Alexandre. Com isso, os resultados das empresas foram abalados.
Michael Viriato, professor de finanças do Insper, aponta que a soma ponderada dos lucros das empresas que compõem o Ibovespa atingiu um máximo acumulado em 12 meses no segundo trimestre de 2011. Desde então, a soma dos lucros já caiu a menos da metade.
“As companhias lucraram em média cerca de 10% de seu valor de mercado naquela época, o que resultava em um múltiplo Preço/Lucro (P/L) de dez vezes, considerando o lucro dos últimos 12 meses. A expectativa para o fim deste ano é de um P/L de 25 vezes, ou seja, o lucro de 2012 terá sido apenas 4% do valor do índice”, afirma. O P/L reflete o número de anos estimado para se recuperar o investimento feito.
O combo foi piorado pela má comunicação entre o governo e o setor privado em questões regulatórias, como a revisão das concessões das elétricas, apontam analistas. “Além das elétricas, neste ano houve influência forte do governo sobre empresas de peso na Bovespa, como Petrobras “, comenta o professor. A companhia sofreu, entre outras questões, com a ausência de reajuste de combustíveis.
Outro papel de peso no mercado local, OGX, perdeu boa parte de seu valor de mercado ao frustrar expectativas de investidores.
Alexandre, da Proxycon, acrescenta que, para coroar a aversão a Brasil, veio a China com crescimento também abaixo do esperado. “O estrangeiro liga nosso mercado a ações de commodities. Estamos umbilicalmente ligados a isso. A Vale, por exemplo, responde sozinha por 13% do Ibovespa”, diz.
Juntos, esses fatores fizeram com que os investidores se retraíssem. O MSCI Brasil tem metodologia própria e não replica o Ibovespa, mas inclui as maiores companhias em valor de mercado da bolsa brasileira.
Já outros índices – global, de emergentes, e mesmo dos Estados Unidos e da Europa – tiveram boas performances apesar de refletirem desempenhos acionários de regiões que sofreram com incertezas econômicas e políticas. “A Europa foi bem porque seu ponto de partida no fim de 2011 foi mais baixo do que o de outros mercados”, diz Bris, do IMD. “Parece agora que a crise dos bônus europeus está chegando ao fim, por isso os mercados europeus vêm performando melhor desde o final do verão no Hemisfério Norte”, afirma.
Para Viriato, do Insper, a Europa também se beneficiou do resultado de várias empresas que têm sede no continente, mas são multinacionais e conseguiram lucrar em outras regiões do mundo.
Já os Estados Unidos, continua o professor, surpreenderam positivamente. Apesar de todas as incertezas, a economia cresce. A expansão revisada do terceiro trimestre do ano foi de 3,1%, em termos anualizados. Com isso, os lucros das empresas acompanham o desempenho macroeconômico e os índices locais, como S&P 500 e Dow Jones, conseguiram se aproximar de máximas históricas ao longo deste ano.