Apenas 30% das ações são negociadas diariamente na bolsa

Postado em: 3 de outubro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Reportagens - Valor Econômico

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Perfil do investidor muda desde 2009, mas não estimula ampliação de papéis girados

VALOR – Emerson Leite, do Credit Suisse: diminuição da presença da pessoa física no mercado acionário brasileiro restringe a possibilidade de dispersão de liquidez

O perfil dos investidores que negociam no mercado de ações brasileiro mudou nos últimos anos, mas isso não se refletiu em uma melhora de liquidez para centenas de papéis, que continuam esquecidos pelos aplicadores. A fatia de pessoas físicas no volume negociado na Bovespa atingiu a máxima de 30,5% em 2009. Atualmente, essa participação está em 16,8%. O estrangeiro ocupou esse espaço e responde por 52,9% dos negócios no mercado local, ante 34,2% no mesmo período de comparação.

Já o volume financeiro médio negociado diariamente cresceu 33% desde 2009, para R$ 7 bilhões atualmente. No entanto, esse dinheiro continua concentrado em papéis de maior liquidez. Um levantamento feito pela Economática a pedido do Valor mostra que apenas 179 ações têm presença em 100% dos pregões da Bovespa, ou cerca de 30% de um total de 604. Esse percentual tem se mantido, com poucas variações, desde 2009.

Emerson Leite, diretor da área de renda variável do Credit Suisse para a América Latina, diz que a diminuição da presença da pessoa física no mercado brasileiro restringe a dispersão de liquidez. Segundo ele, as pessoas físicas e os investidores institucionais locais são os que mais investem em empresas menores e mais conhecidas do público doméstico. Ele afirma que, no acumulado de 2012 a 2016, houve saída líquida de R$ 38 bilhões de pessoas físicas. Os investidores locais, como gestoras, retiraram mais R$ 66 bilhões. O Credit Suisse está entre as casas líderes de volume no mercado local de ações e cobre 104 empresas no Brasil.

Em períodos melhores para a Bovespa, o número de ações com 100% de presença nos pregões saltou de 80 papéis em 2002 para 175 em 2009. O ano de 2007 foi conhecido como o período do Dow Jones S&P-500 Eurofirst300 “boom” de ofertas iniciais de ações, com 64 novatas.

“A liquidez só vai se resolver quando as condições econômicas melhorarem, o volume da bolsa crescer e houver mais interessados além dos hedge funds”, diz Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Nikkei225 Xangai SE Mercado de Capitais (Apimec) e sócio da Proxycon. Ele afirma que os investidores profissionais, como fundos, têm preferência por liquidez, o que acaba concentrando o giro em menos papéis.

“Quando a empresa não oferece o volume, o interesse cai.” Ele também comenta que, em momentos de crise como o atual, as casas de análise reduzem a cobertura de ações. “O processo de análise tem muito a ver com demanda”, afirma.

A melhora da economia será essencial para aumentar o volume girado com as companhias esquecidas, mas outros pontos precisam ser corrigidos. Uma delas, diz Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, é a queda dos juros. “A bolsa compete com uma remuneração de 14% ao ano praticamente sem risco”, afirma.

Mas ele também diz acreditar que as empresas e a própria BM&FBovespa precisam trabalhar para aumentar a exposição das ações menores. “As empresas precisam fazer um trabalho melhor de governança corporativa e publicidade.” Muitas companhias que lançaram ações em bolsa, afirma, não cuidaram de seus papéis. Não possuem uma área de relações com investido- res estruturadas nem fazem reuniões com os acionistas.

Cristiana Pereira, diretora comercial e de desenvolvimento de empresas da BM&FBovespa, diz que muitas companhias com baixo “free float” (fatia de ações em circulação) abriram capital há muito tempo e usam pouco o mercado. Em 2010, a bolsa criou uma área dedicada a desenvolver esse mercado, com foco em empresas com potencial ou interesse de desenvolvimento. Mas ela diz que, por enquanto, o trabalho tem sido mais reativo, com atendimento a empresas que procuram a bolsa.

Uma das saídas para as empresas ampliarem a liquidez, diz, é a contratação de um formador de mercado, que faz o trabalho de colocar a companhia em contato com os potenciais investidores. Segundo ela, mais de cem companhias adotam o instrumento atualmente.

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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