A crise afugentou milhares de investidores do mercado acionário, mas os que se mantiveram na bolsa estão tendo uma atenção especial das empresas de capital aberto. Com o objetivo de se aproximar da pessoa física e atrair acionistas para o longo prazo, as companhias têm aumentado o número de encontros com analistas e investidores, e inovado no relacionamento com o público.
Até o início de agosto, só em São Paulo, as empresas participaram de 53 reuniões na Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec). No ano passado, ocorreram 41 encontros no mesmo período. O aumento é explicado em parte pelo ingresso de novas companhias na bolsa neste ano e no total, foram 11). Por lei, a empresa é obrigada a fazer pelo menos uma “reunião Apimec” por ano. Em geral, o que se via até o momento eram encontros com pouca presença de pessoa física. Especialistas dizem, porém, que a crise produziu um maior interesse da pessoa física em conhecer a companhia e um empenho dessas empresas em se apresentar.
“As empresas têm se apresentado mais, a cada trimestre, por exemplo”, diz o presidente da Apimec-SP, Reginaldo Alexandre. “O que elas perceberam é que a transparência tem valor. Ficam mais bem vistas pelo mercado”, afirma, ao explicar que nos encontros também comparecem auditores e contadores, que influenciam na percepção de risco da companhia. “Sem dúvida, percebemos pelas perguntas que este ano o público está mais proativo”, diz o diretor de Relações com Investidores da Coelce, Luiz Carlos Bettencourt, que realizou sua reunião na quintafeira passada. Circuito de feiras. Para tentar atrair um público maior, as companhias também têm se deslocado para onde muitos investidores se reúnem, no circuito ExpoMoney de apresentações sobre finanças e investimentos pessoais. “Para a empresa é bom porque ela se expõe para mais gente. Para a pessoa física, é uma experiência de aprendizado porque ela estará ao lado de analistas especializados na companhia e no setor, que estão fazendo perguntas”, resume o diretor executivo de Negócios da GEO Eventos, RobertDannenberg, organizadora da feira.
Segundo Alexandre, da Apimec-SP, há dez anos há um trabalho de levar os encontros a cidades fora do eixo Rio-São Paulo, mais um motivo para a parceria entre as empresas, a Apimec e a ExpoMoney. “Há cidades que não estavam estruturadas para receber o encontro.As empresas aproveitam a própria estrutura da feira”, diz Dannenberg. A ideia surgiu por uma iniciativa do Itaú Unibanco. “Achamos que lá atendemos pessoas que não são leigas, tem algum contato ou interesse pelo mercado. Um público que vai desde o acionista e até o potencial investidor”, diz o superintendente de RI do banco, Geraldo Soares. Das 13 cidades no circuito da ExpoMoney, o banco fechou um pacote de encontros em sete.
O Itaú Unibanco já realizava as reuniões nesses locais, mas pretende aumentar o público com afeira, algo que tem conseguido. “A frequência nessas cidades subiu 165% em média”, conta. Soares lembra o caso de Goiânia, por exemplo, onde ocorrem encontros há oito anos. “Em média, compareciam 100 pessoas. Com a ExpoMoney este ano, foram 492.
Potencializa a mensagem que a empresa quer transmitir.” Nas 22 reuniões do ano passado, foram 2.500 participantes, número que já foi ultrapassado pelas 2.800 pessoas nas 15 reuniões realizadas em 2011 até agora. A pessoa física é vista como um público potencial já que no longo prazo os investimentos devem aumentar se o juro da renda fixa diminuir. O público já representa 22% da Bovespa. As reuniões Apimec são públicas e gratuitas. Para participar, basta fazer uma inscrição no próprio site da Apimec ou, no caso das feiras, no próprio local do evento. Por Yolanda Fordelone