Os profissionais de relações com investidores têm um papel fundamental no processo de comunicação entre as companhias e o mercado. Esses profissionais vêm ganhando destaque dentro das empresas, dentro do contexto da crescente valorização das boas práticas de governança – entre as quais se inclui a comunicação clara, abrangente e tempestiva de eventos que afetem ou possam afetar a vida das corporações.
Os avanços são notórios, mas, como em todo processo de evolução, há aspectos que podem ser aprimorados. Alinhamos em seguida algumas sugestões, decorrentes de nossa atuação profissional e da experiência relatada por outros analistas de investimento, com vistas ao aumento da eficiência do processo de comunicação das companhias com o mercado.
1) É essencial que as áreas de relações com investidores tenham profissionais com dedicação exclusiva.
2) Mudanças constantes de management não são bem-vindas, especialmente quando há deslocamentos de diretores para atender a conveniências de momento (por exemplo, a abertura de capital de uma das empresas do grupo).
3) Em caso de saída de algum executivo de alto escalão importante para o relacionamento da empresa com o mercado, colocar o quanto antes, interinamente, outro profissional no posto e não demorar muito tempo para contratar um substituto.
4) Comunicados nunca são demais. Mesmo para as notícias menos importantes, é um excelente instrumento de comunicação com o mercado.
5) Comunicados e fatos relevantes devem ser claros, detalhados e conter os dados mais significativos, de preferência com o máximo de informações financeiras passíveis de divulgação. Em caso de resultados trimestrais, colocar sempre análise dos números em relação trimestre anterior e em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Comentar sempre razões para variações nas rubricas, pois não há nada pior do que dizer, por exemplo, que certo custo aumentou 30% e não explicar o porquê. Não mudar a abertura de dados. É incômodo para o analista alterar seu modelo porque a empresa vai mudando a maneira de apresentar seus números.
6) Fazer apresentações no Brasil e no exterior. Dada a imensa gama de alternativas que os gestores têm à disposição, é bom que a empresa esteja sempre presente, relembrando-os da oportunidade de investimento que suas ações representam. Destacamos as reuniões públicas da Apimec. Reuniões restritas têm orientações do Codim, para que não haja informação privilegiada para grupos reduzidos de analistas e investidores.
7) A companhia transmite confiança ao investidor quando possui políticas claras de dividendos e de recompra de ações.
8) Contato com analistas deve ser freqüente, mantendo sempre as áreas de relações com investidores um acompanhamento dos relatórios, recomendações e estimativas. Vale tentar “corrigir” mal-entendidos e distorções de projeções, e estar ciente da razão pela qual determinado analista está mais ou menos otimista com o papel.
9) Orientações sobre os resultados são bem-vindas, mas o “guidance” não-cumprido é pecado mortal. É preferível uma meta atingível a expectativas muito otimistas que podem não ser alcançadas.
10) A empresa deve ter presença constante em eventos de mercado.
11) Realizar conferências telefônicas trimestrais de resultados. Essas conferências não deveriam acontecer no mesmo dia da divulgação do resultado, para que os interessados possam ter tempo de analisar os números publicados.
12) Realizar conferências sempre que um tema relevante vier à tona, caso de uma aquisição, leilão, provisão, fusão etc, embasando-as com o maior número de dados financeiros possível.
13) Os sites de relações com investidores devem ser fáceis de navegar e disponibilizar TODOS os press releases já divulgados pela empresa, para facilitar a pesquisa de dados históricos.
14) Fatos relevantes deveriam ser divulgadas apenas fora do horário de pregão, preferencialmente no final do dia, para dar tempo de os investidores “digerirem” as novidades e fazer contas.
15) Visitas às fábricas deveriam ser mais freqüentes.
16) As empresas têm falhado na comunicação de certos aspectos de governança: composição e representação de minoritários no conselho, pontos específicos do estatuto social, entre outros.
17) Algumas companhias privilegiam o investidor estrangeiro, deixando indevidamente o investidor local em segundo plano.
18) Assiduidade não implica, necessariamente, efetividade. Empresas que têm contato freqüente com analistas têm, às vezes, surpreendido o mercado com resultados não esperados.
Essa lista visa apenas a dar uma modesta contribuição para o aperfeiçoamento das relações entre as companhias e profissionais de investimento e investidores. Quanto mais fluidos, funcionais e eficientes forem esses contatos, melhor será para os envolvidos e para nosso mercado de capitais.