Companhias com faturamento acima de US$ 1 bilhão passaram de 46 para 116 em dez anos; receita do grupo aumentou 420%
Puxado pelo crescimento da economia nos últimos dez anos, o grupo das grandes empresas brasileiras está maior e mais vigoroso. São companhias como Petrobras, Vale, Eletrobrás, Cosan, BRF Foods, CSN, Marfrig ou Sabesp, todas com ações negociadas na Bolsa de Valores, que vêm expandindo seus negócios e faturando cada vez mais.
Levantamento realizado pelo iG com base nos dados da consultoria Economática mostra que as companhias abertas no País com faturamento acima de US$ 1 bilhão passaram de 46 em 2000 para 116 em setembro deste ano, uma expansão de 152%. O último dado leva em conta a receita líquida em 12 meses, para facilitar a comparação anual. Além do crescimento em número de empresas, esse “clube das bilionárias” viu seu faturamento quintuplicar na década, saltando de US$ 128,8 bilhões para quase US$ 670 bilhões, um aumento expressivo de 420%.
A Petrobras, maior empresa brasileira, elevou sua receita em 377%, passando de US$ 25,5 bilhões em 2000 para mais de US$ 120 bilhões agora. A petroquímica Braskem é outro exemplo. Seu faturamento saltou de US$ 1,5 bilhão para US$ 13,3 bilhões, ou 786% mais. A varejista Pão de Açúcar, outra integrante do clube, foi no mesmo caminho e faturou 330% mais, alcançando US$ 3,9 bilhões.
Outras empresas passaram a integrar o grupo das bilionárias da Bolsa. A construtora e incorporadora Gafisa estava longe do clube em 2000, quando tinha faturamento de US$ 67 milhões. Em dez anos, após a receita aumentar em mais de 3.000%, a companhia já é uma participante de peso, com receita líquida operacional de US$ 2,2 bilhões.
São vários os fatores citados pelos analistas para explicar esse forte desempenho das empresas. Vão desde o crescimento da economia brasileira até a atenção que o capital estrangeiro passou a dedicar aos ativos brasileiros.
Nova política fiscal
Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais em São Paulo (Apimec-SP), lembra que, após o atentado às Torres Gêmeas, nos EUA, em 2001, houve um relaxamento da política fiscal dos países e todos adotaram regras mais liberais, o que beneficiou as companhias em última instância.
“Em 2003, começou um ciclo de crescimento, com a China despontando. Foram cinco ou seis anos de crescimento da economia internacional, o que trouxe melhores preços para as commodities”, explica Alexandre. Como as empresas brasileiras são grandes exportadoras de matérias-primas, saíram ganhando com essa alta. “A melhora no cenário internacional fez a economia brasileira crescer, a taxa básica de juros caiu e os indicadores macroeconômicos ganharam um novo patamar. Formou-se um cenário favorável ao crescimento.”
O clube das bilionárias
Total de empresas da Bolsa com receita acima de US$ 1 bilhão. Segundo Alexandre, nesse novo cenário houve avanços também nos marcos regulatórios do mercado financeiro e de capitais, como a adoção de normas de governança corporativa por parte das companhias abertas e a criação do Novo Mercado na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa), a reforma na Lei das SAs, atuação mais forte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além da melhoria nas demonstrações contábeis.
“A década foi particularmente importante para o mercado brasileiro”, diz Antonio Castro, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). “A criação do Novo Mercado foi um fator muito expressivo”, afirma. O Novo Mercado, em funcionamento desde 2000, é um segmento de listagem das ações das empresas que se comprometem com os mais altos níveis de respeito aos acionistas minoritários. O grupo já conta com mais de 100 companhias.
Esse segmento de listagem atraiu mais investidores estrangeiros para o País, já que as companhias se comprometiam com regras mais rígidas de governança. Como num circulo vicioso, mais e mais companhias passaram a abrir o capital, de olho na onda de liquidez interna e externa. “O Brasil foi destaque em IPOs na década. Só perde para China e Índia”, lembra Castro. IPO é a sigla em inglês para oferta pública inicial de ações. “Os estrangeiros levaram dois terços as ofertas iniciais de ações”, complementa Alexandre.
Mais estrangeiros
Os dados da BM&FBovespa dão conta de que, além de comprar ações novatas, os investidores estrangeiros também elevaram sua participação no pregão brasileiro. Em 2000, eles eram responsáveis por 22% do volume financeiro dos negócios e em novembro último já detinham 35% do total. Eles passaram, inclusive, a participar de uma Bolsa muito mais pujante. A média diária de negócios na Bolsa saltou dos US$ 410 milhões em 2000 para a casa dos US$ 3,7 bilhões em novembro de 2010.
O total de empresas registradas na Bolsa, no entanto, caminhou no sentido oposto: caiu de 495 há dez anos para 470 em novembro deste ano. Muitas companhias fecharam o capital, foram compradas ou fundiram seus negócios, como a Sadia e a Perdigão, que formaram a BRF Foods, ou a VCP e a Aracruz, que se juntaram na Fibria.
Em contrapartida, uma grande parcela das empresas que hoje estão no clube das bilionárias abriu o capital nos últimos dez anos. É o caso da concessionária de rodovias CCR, que inaugurou o Novo Mercado. Na época da abertura de capital, a companhia faturava cerca de US$ 550 milhões e agora supera os US$ 2 bilhões ao ano. A Natura, fabricante de cosméticos, tinha receita líquida de cerca de US$ 666 milhões quando entrou no mercado de ações, em 2004. Em setembro passado, a empresa faturou US$ 2,9 bilhões anualizados.
A chegada de novas companhias na Bolsa acabou virando uma febre, só aplacada com o banho de água fria provocado pela crise financeira internacional, intensificada após a quebra do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. O Brasil chegou a registrar 64 novas companhias desembarcando na Bovespa em 2007. Neste ano, foram 10 empresas, sem contar outras 10 que já tinham ações negociadas e fizeram novas ofertas.
Antonio Castro, as Abrasca, diz que para 2011 prevê um novo fluxo de companhias abrindo o capital. “O que se espera do Brasil é ter mais empresas listadas. Não dá para ficarmos na casa das 480 companhias. Quando nos comparamos com outros emergentes, os números são muito diferentes”, afirma. Segundo ele, na Índia, há mais de 6 mil empresas sendo negociadas nas duas Bolsas. Na China, são quase 4 mil. O clube, portanto, deve passar a contar com novas associadas.