O investidor de varejo está penando para conseguir informações sobre a oferta de ações da Petrobras, especialmente alguma avaliação confiável de vale a pena ou não aplicar recursos na
operação.
Como praticamente todos os bancos, corretoras e advogados do mercado societário estão envolvidos de alguma forma no negócio, eles se recusam a fazer qualquer comentário sobre o investimento, alegando que estão no chamado “período de silêncio”.
A Instrução 482 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) impõe restrições à divulgação de informações pelas empresas e instituições envolvidas em uma oferta pública de ações durante o período de realização da operação. A quebra da regra pode implicar em exclusão de corretoras participantes da oferta e, em casos mais graves, até a suspensão de toda a operação.
Para Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), na prática, a imposição do período de silêncio é uma “amarra”, que toma proporções maiores por depender de uma interpretação da lei. Segundo ele, os analistas chegam a ter medo de se comunicar.
“Na dúvida, é mais conveniente não falar nada”, explica. Principalmente porque ninguém quer ficar de fora de uma operação desse porte, que pode movimentar até R$ 128 bilhões, a maior oferta pública da história e, consequentemente, gerar grandes comissões para os agentes envolvidos.
“Essa operação é bastante envolvente por sua grandiosidade, então, o texto da regulação, que não é pontual, é levado da maneira mais estrita possível, já que ninguém quer colocar em risco sua participação.”
Com tanto dinheiro envolvido, Reginaldo Alexandre acha difícil que se repita o que aconteceu em junho do ano passado, na abertura de capital da VisaNet (atual Cielo). Na ocasião, 23 das 79 corretoras envolvidas foram descredenciadas por “comunicação indevida”. Mais de 50 mil investidores
pessoa física ficaram de fora da operação, que movimentou R$ 8,4 bilhões. “É difícil alguém se expor num momento desses”, afirma.
Sem a avaliação dos principais profissionais de investimentos, e também excluído dos “road shows”, destinado apenas a grandes investidores, resta ao pequeno investidor buscar informações no prospecto da oferta, de mais de 600 páginas.
“O pequeno investidor não tem a cultura de ler prospecto. Além de ser extenso, a linguagem não é acessível”, observa o professor de Finanças do Insper, Ricardo Almeida. “Ele prefere ouvir um amigo e não está muito atento a detalhes que podem ser determinantes”, observa.
O professor do Insper também orienta o investidor que for participar da oferta a solicitar apenas o montante que realmente deseja investir, pois ele não acredita em um rateio expressivo nas reservas de ações, dado o tamanho gigante da operação.
“É tanta ação que todos os interessados devem ser contemplados. Quem fizer a tradicional conta de multiplicar por cinco o número de papéis que está realmente disposto a comprar vai comprometer o orçamento.”
Almeida também não espera uma grande valorização dos papéis logo após a oferta justamente por conta do grande volume de ações, ao contrário de operações como a abertura de capital da BM&F, em 2007, quando as ações subiram 22% no dia da estréia.
O consultor de investimentos da MoneyFit, Antonio De Julio, também prevê uma demanda moderada pelos papéis da Petrobras. “O problema é que a oferta está sendo feita em um momento em que o mundo não tem tanto dinheiro para gastar. O mercado não está sorrindo como em 2005.”
Ele também questiona o potencial de valorização das ações a longo prazo, argumentando que ainda há incertezas sobre a tecnologia necessária para extrair petróleo a sete quilômetros de profundidade.
Outra questão, na sua opinião, é a tendência mundial de aumento do uso de fontes alternativas de energia. “Será que quando esse petróleo for retirado da camada pré-sal o barril estará valendo o quanto a Petrobras vai querer que ele esteja valendo?” questiona De Julio.
(Ana Luísa Westphalen | Valor)