Demonstrativos ficam mais transparentes

Data Original: 31/05/2011
Postado em: 17 de dezembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Reportagens - Valor Econômico

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O impacto das normas internacionais IFRS sobre as ações das empresas negociadas em Bolsa de Valores ainda não pode ser inteiramente medido não só porque as mudanças contábeis são muito recentes e os analistas e investidores passam por um período de conhecimento e aprendizado. Mas sobretudo porque o mercado de ações atravessa um momento ruim, de persistente baixa. Em maio, até o dia 24, o Ibovespa registrava desvalorização de 4,2%, ampliando para 8,6% a perda do ano. Um benefício gerado pelas novas regras contábeis pode ser facilmente anulado pelo quadro econômico adverso. Tende, no curto prazo, a perder relevância em relação ao cenário que conjuga desaceleração do crescimento, aperto no crédito, alta do juro básico e incertezas internacionais.

Levantamento da corretora Planner mostra que o lucro líquido de 300 empresas abertas cresceu 41% no primeiro trimestre do ano. Se dessa amostra forem retiradas as gigantes Petrobras e Vale, o avanço desce para o patamar de 14%. Mas não dá para dimensionar precisamente, no entender do gerente de projetos da corretora, Ricardo Martins, qual o tamanho da responsabilidade do IFRS no crescimento do resultado final das companhias. Mas, publicados os balanços sob a égide do IFRS, já foi possível aos analistas comemorar uma vasta gama de aprimoramentos. O trabalho de análise e prospecção dos melhores papéis se tornou muito mais produtivo e consistente. O feito essencial do IFRS foi trazer ao conhecimento geral informações antes restritas ao ambiente interno das companhias. Elevavam-se à categoria de segredos a serem resguardados da curiosidade da concorrência.

O IFRS altera as contas do balanço patrimonial e do demonstrativo de resultados, e exige que seja revelada alguma medida de lucro por segmento operacional, desencadeando a publicação de uma abundante quantidade de informações nas notas explicativas. “As contas das empresas se tornaram muito mais abertas. A análise dos segmentos operacionais era muito complicada antes das alterações”, diz o analista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi. A pura e simples aplicação do conjunto de normas arroladas no IFRS não será capaz de alterar a essência de uma empresa, alerta o presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-SP), Reginaldo Alexandre. “A empresa é a mesma, antes e depois do IRFS. O que muda é a forma como é mostrada ao mercado”, diz ele.

O que de fato importa é o fluxo de caixa, e este não se altera. Mas, depois do IFRS, as companhias ficaram mais transparentes, visíveis e analisáveis. A melhoria dos processos contábeis é contínua, mas faltava o ponto vital do desmembramento das atividades capazes de gerar receita própria e o impacto de cada resultado individual no balanço consolidado. Os analistas precisavam trabalhar com uma série de suposições nem sempre verdadeiras. Muitas vezes, no entender de Alexandre, o “achismo bem-intencionado” se materializava na sugestão de compra de uma ação que poderia se revelar desastrosa. O IFRS aumentou o grau de escolha e de responsabilidade dos auditores. Os números do balanço são agora muito mais próximos aos valores reais em caixa.

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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