As grandes empresas de mídia brasileiras permanecem com estruturas fechadas de capital e sob controle familiar. Das sete companhias avaliadas nesta reportagem, apenas três – Net, Vivax (que em breve serão uma só, já que a primeira comprou a segunda no ano passado) e Uol têm ações negociadas em Bolsa. E nenhuma delas é representante da chamada mídia tradicional.
Todos os ensaios recentes nesse campo foram abortados. O Grupo Estado, durante seu projeto de reestruturação (que chegou a afastar a família Mesquita dos postos de decisão), cogitou a idéia, mas não a levou adiante. A Folha, quando se associou à Portugal Telecom, em 2005, também caminhou nessa direção. Uma fusão com o U 01 chegou a ser realizada, mas no fim das contas o provedor foi desmembrado e teve ações lançadas. A Folha permanece como uma sociedade anônima de capital fechado. A Abril chegou a anunciar sua intenção de ir ao mercado, mas o acordo com o grupo sul-africano Naspers, em 2006, fez o plano ser engavetado.
Nos últimos três anos, abrir o capital virou febre entre empresas de diversos setores. O segmento da construção civil, por exemplo, que não tinha sequer u representante listado na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no início da década, hoje possui mais de uma dezena. Desde o início do ano, mais de 30 processos desse tipo já foram oficializados.
Ir à Bolsa é uma forma de levantar capital para investimentos sem ter de depender do bancos. As companhias que se dispõem a isso, porém, precisam observar uma série de regras de gestão e de divulgação de formações – que, afinal, é o negócio principal do setor. Em entrevista publicada no Meio & Mensagem na semana passada, o presidente executivo do Grupo Abril, Giancarlo Civita, relativizou a importância da abertura de capital. “Creio que o leitor de Capricho não se interesse em saber como anda a Abril trimestralmente.”
“O mercado está muito receptivo, as empresas de mídia estão perdendo uma boa oportunidade”, diz o analista de investimentos Reginaldo Alexandre, vice-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais de São Paulo (Apimec). Ele acredita que a estrutura familiar das companhias impeça o movimento de abertura. “Mas isso é superável. Muitas organizações com esse tipo de gestão estão na Bolsa hoje.”
“Lamento que nenhuma empresa esteja na Bolsa”, diz o consultor Maurizio Mauro, que comandou o processo abortado de lançamento de ações da Abril. “Não vejo uma razão para que as corporações de mídia não caminhem nessa direção. Esse é um processo de desenvolvimento econômico natural.”
Já o consultor Fernando Portella consegue enxergar avanços. “Antes de tudo, fico feliz que a indústria esteja divulgando resultados. Isso nos coloca no mesmo patamar de outros setores”, diz. “Mas a abertura de capital é um passo mandatório. Se você tem transparência, performance, credibilidade, por que não fazer o lançamento de ações ” . Quem sabe se já não estivessem sob o escrutínio de investidores os investimentos realizados nos anos 90 não tivessem ocorrido com mais cautela
(JPN)