Frustrada, Bolsa já reflete desaceleração econômica

Data Original: 27/05/2002
Postado em: 15 de dezembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
-Categoria(s)

Reportagens - Valor Econômico

- Marcado com Tags:

A bolsa já está refletindo a frustração dos investidores com os maus indicadores da economia brasileira. O comportamento exibido pelas ações dos setores bancário e de consumo – as que amargam as maiores quedas do mês -, é o que mais torna evidente essa decepção.

A taxa de juros continua muito alta, a atividade econômica não evoluiu como o esperado e a renda real do brasileiro ainda por cima caiu 5,5% no primeiro trimestre. As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano estão sendo rebaixadas de 2,5% para 2%, pouco acima dos 1,5% do ano passado. O reflexo na economia não poderia ser outro: as pessoas deixaram de lado os planos de consumo e de tomar crédito.

Para os analistas, a situação dos setores de consumo nos próximos meses pode melhorar com as eleições. A campanha eleitoral aumenta as ofertas de emprego informal. O novo presidente da República deve ter como prioridade uma política de incentivo aos setores produtivos, o que em última instância significa juros mais baixos e economia reaquecida. Até lá, as ações das exportadoras devem continuar como as mais atraentes.

“Hoje não há nenhum fator positivo para o consumo. O crescimento da economia é lento e a renda pessoal está em queda”, diz Reginaldo Alexandre, chefe de análise do banco Itaú.

Um levantamento feito pela Economática revela que este mês, até o dia 22, o setor de comércio foi o que mais perdeu valor de mercado (uma queda de 6,5%). Em seguida estão as ações do setor têxtil caindo 6,3%, alimentos e bebidas 6% e bancos 4,1%. Na ponta contrária, mais uma vez, estão os setores exportadores – mineração com alta de 7,4% e papel e celulose 4,2%.

O desempenho negativo das empresas de consumo surpreendeu boa parte do mercado. “Ninguém esperava uma economia pujante exatamente pelas eleições. Mas no mínimo alguma recuperação, com o fim do racionamento e queda dos juros”, diz Júlio Ziegelmann, da BankBoston Asset Management. No entanto, o corte dos juros está ocorrendo de forma muito mais lenta do que o esperado. “O caso Roseana Sarney antecipou o stress eleitoral e as chances de queda dos juros e crescimento maior da economia”, diz Ziegelmann. O Boston era um dos bancos que apostava nas ações de consumo para este ano.

Os acontecimentos dos próprios setores também prejudicaram as ações. As empresas de alimentos (Sadia e Perdigão), por exemplo, sofreram com a queda dos preços dos seus produtos e o aumento dos insumos (soja e milho). Reginaldo Alexandre, do Itaú, lembra que as empresas de alimentos também foram prejudicadas pela restrição de alguns países aos alimentos americanos, como forma de desaprovar a restrição americana à importação de aço.

Segundo Clarissa Saldanha, analista do banco Brascan, o consumo deve melhorar a partir do segundo semestre com o acirramento da campanha eleitoral. “As eleições aumentam o mercado de trabalho informal e gera reflexos positivos no consumo”. Os profissionais apostam nas empresas de consumo principalmente para depois das eleições já que todos os candidatos à presidência da República pregam a queda mais audaciosa dos juros e uma política voltada ao setor produtivo.

Os bancos também estão padecendo com os números ruins da economia. Um levantamento da consultoria Austin Asis, com 28 bancos que já publicaram seus balanços do primeiro trimestre, revela que a carteira de crédito cresceu 12,1%. Esse número é ruim, considerando que os bancos projetavam aumento entre 20% e 25% da carteira.

Além do crédito, outros fatores vão atrapalhar o resultado dos bancos este ano. Entre eles, a estabilidade do dólar, inadimplência maior, excesso de provisão para devedores duvidosos e ajustes nas instituições que compraram. “Este será um ano de estagnação para os bancos”, diz Rodrigues.

Uma parte do mercado acredita que o risco dos bancos vai muito além do andamento da economia este ano. O grande temor é de que o futuro governo adote alguma política monetária prejudicial ao sistema financeiro. “O mercado acha que os bancos serão o patinho feio com a vitória da esquerda”, diz Beto Scretas, diretor da Schroders Brasil.

Seja qual for o próximo presidente, os bancos devem sofrer com a política de incentivo ao setor produtivo e queda dos juros. “Acabou a fase excepcional dos bancos de ganhar às custas dos juros dos títulos públicos”, diz um analista. (Por Daniele Camba)

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

Powered by JCA Consulting – jcaconsulting.net.br