O investidor institucional local diminuiu a fatia de ações em suas carteiras em janeiro. Até o pregão do dia 30, aplicadores grandes, como fundos de pensão, registraram saída líquida de R$ 4,3 bilhões da Bovespa. O número é o maior desde abril de 2008, quando as retiradas foram de R$ 5,5 bilhões.
Para analistas, apesar da dimensão, não é possível dizer que há uma fuga dos investidores brasileiros da bolsa. Mas os números indicam que, pelo menos neste começo de ano, o aplicador local esteve mais pessimista do que o estrangeiro, que tem saldo positivo de R$ 4,5 bilhões até o dia 30.
“O Ibovespa caiu 1,95% em janeiro afetado pela demora na recuperação da economia local e por preocupações com a inflação”, comenta o chefe de análise da Bradesco Corretora, Carlos Firetti. Ele acredita que nem mesmo o estrangeiro, que tem saldo positivo na bolsa, alocou recursos apenas porque está francamente otimista com o país.
“Houve um rebalanceamento entre países e a percepção sobre o Brasil melhorou, mas está apenas menos negativa.” Ele comenta que participou de reuniões com investidores estrangeiros na Europa este mês e o Brasil não é a principal aposta de nenhum investidor.
Reginaldo Alexandre, sócio da consultoria Proxycon e presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais em São Paulo (Apimec-SP), acredita que o investidor local, depois de entrar no rali da bolsa em dezembro, quando o Ibovespa subiu 6%, aproveitou a entrada dos estrangeiros para fazer ajustes, que podem ser momentâneos. Ele também acredita que parte dos recursos tenha ido para outras modalidades de fundos rentáveis no momento, como os imobiliários.
A visão de ajuste marginal é compartilhada por Pedro Quaresma, sócio da STK Capital. Ele lembra que os ativos da indústria de fundos de pensão somavam nada menos que R$ 620 bilhões em junho de 2012. Segundo números da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), desse total, 28,3% estavam em renda variável e 62,4% em renda fixa. A fatia em renda fixa, aliás, cresceu. Em dezembro de 2011, era de 61%.
Para Quaresma, apesar da saída em janeiro, a perspectiva é positiva para o ano. Ele diz acreditar que o domínio da alocação na renda fixa deve começar a diminuir à medida que vencerem aplicações prefixadas. “Com a queda relevante dos juros em 2012, muitos fundos ganharam bastante nesse tipo de carteira”, diz. “Mas, quando esses títulos forem vencendo, os novos vão oferecer taxas cada vez mais baixas, o que deve levar a migrações para a renda variável”, afirma.
Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em alta de 0,99%, para 60.351 pontos, impulsionado por números melhores da economia americana. OGX subiu 1,21%, Vale PNA teve alta de 1,29% e Petrobras PN avançou 2,1%. Na semana, o índice caiu 1,33%. (Por Aline Cury Zampieri)