Governo incentiva a aquisição da CSN pelo grupo

Data Original: 14/07/1999
Postado em: 14 de novembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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O presidente Fernando Henrique Cardoso está encantado com as  megafusões. Depois que as ri­vais Brahma e Antarctica uni­ram suas forças numa gigan­tesca corporação de bebidas, o presidente entusiasmou-se com a idéia de criar mul­tinacionais verde-amarelas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi­co e Social (BNDES) já está empenhado em desenhar a nova configuração de setores estratégicos da indústria. Quer dar músculos a jogadores capazes de competir de igual para igual com os grandes conglomerados internacionais. Daí pode estar nascendo uma multina­cional brasileira no setor de aço. Quem aparece como mais forte candidato para liderar esse processo é o grupo Gerdau. O governo está inclinado a montar um enorme complexo siderúrgico em tomo da empresa gaúcha, financiando até a aquisição da Companhia Siderúrgica Na­cional (CSN).

“A fragmentação da in­dústria inibe a capacidade do Brasil de competir globalmente”, diz Reginaldo Alexandre, analista do banco BBA. Para se ter uma idéia, o País ocupa a sétima posição entre os maiores produtores mundiais, mas a divisão do bolo deixa a maior delas individualmente – a própria CSN – em 382 lugar na lista de todos os fabricantes. Há cinco grandes blocos si­derúrgicos. “O Brasil tem competitividade porque é rico em minério de ferro, facilitando a produção a baixos custos.” O empresário Benjamin Steinbruch, controlador da CSN, se apressa em des­mentir: “Não recebi nenhuma proposta formal até agora.” Caso surja uma gi­gante do aço brasileira, as peças do jogo terão as maiores modificações desde a privatização no início da década. “Será a segunda rodada das privatizações”, diz o diretor do BNDESPar, Nélson Rozen­tal.

Depois de liquidar a Siderbrás, holding que reunia tcx,las as usinas, e então privatizá-las, o governo estuda conso­lidar o setor em um oligopólio priva­do. Num dos cenários desenhados pelo BNDES, o grupo Gerdau seria coloca­do entre os dez maiores produtores mun­diais. Para alcançar esse objetivo, a CSN seria dividida em duas empresas. A pri­meira delas atuaria _na área siderúrgica, sendo vendida ao grupo gaúcho. A ou­tra seria mantida pelo empresário e reu­niria as operações de mineração, ferro­via e portos, além das demais participa­ções do empresário, incluindo aí a sua fatia na Vale do Rio Doce. Mas, para o projeto virar realidade, existe um tortuo­so caminho. “O governo quer acelerar o negócio, mas há fortes resistências dos grupos preteridos”, diz uma fonte pró­xima à reestruturação. “Mesmo dentro da Gerdau, há quem tema assumir um grande passivo.” Os gaúchos preferem manter sigilo sobre qualquer movimento.

“O BNDES é o indu­tor desse processo”, limita-se a dizer o vice-presidente, Fre­derico Gerdau Johann­peter. Apesar da pre­ferência do governo sobre um grupo, nin­guém quer ficar de fora. “A Usiminas tem de estar presente em qualquer reestruturação”‘ diz o seu presidente, Rinaldo Campos Soares. Além disso, o processo, que pode durar meses, passa ainda pelas mesas do fundo de pensão do Banco do Bra­sil (Previ), do Bradesco e da V ale, to­das grandes acionistas das siderúrgicas. Se algum grupo nacional consolidar­-se como grande competidor global, o governo estará mudando radicalmente seu comportamento.

No ano passado, quando a Acesita e, por tabela, a Com­panhia Siderúrgica de Tubarão (CST), reconhecida como o melhor ativo do se­tor, foi vendida ao grupo francês Usinor por R$ 700 milhões, Steinbruch chegou a oferecer R$ 1 milhão a mais. Havia outros interessados como a Usiminas. Mas o governo manobrou a Previ para evitar que a Acesita caísse nas mãos de grupos privados nacionais. Em ano eleitoral, não quis comprar briga com os grandes empresários eventualmente preteridos. Empurrou um problema para a frente, sem conseguir fortalecer um concorrente nacional.

Pressão Alemã

Embora o BNDES esteja agora mais disposto a financiar os fabricantes brasileiros, o grupo alemão ThyssenKrupp apareceu como um grande interessado em levar a CSN. Maior produtor de aço da Europa, ele já possui uma joint venture com a siderúrgica de Steinbrunch para a construção de fábrica de chapas de aço às montadoras. Segundo especialistas, a empresa alemã cairia como uma luva nos interesses de Steinbrunch. “É a mais capitalizada do que o grupo Gerdau e dona de tecnologia internacional – tudo o que CSN precisa”, diz uma fonte próxima. Segundo ele, as próprias montadoras de veículos, como as fábricas de carros alemãs Mercedes-Benz e BMW dona da Land Rover, que recentemente se instalaram no Brasil, gostariam de casar com seus interesses com o Thyssen.

O assunto chegou até a alta cúpula do governo brasileiro e alemão. Quando esteve com o presidente Fernando Henrique Cardoso recentemente, o chanceler alemão, Gerhard Schoder, demonstrou o interesse de fazer com que seu país volte a ser segundo maior parceiro brasileiro, depois de perder a posição para a esquadra de investimentos espanhola.

Nessa transação, há um ganho adicional, como lembram membros do governo: mais divisas para aliviar a pressão nas contas externas. Depois que estouraram os boatos de que Steinbruch estaria disposto a vender suas participações para fazer frente às dificuldades de caixa provocadas pela desvalorização do real, muita coisa parece ter mudado na vida de quem mais havia se adaptado aos tempos de globalização. De colecionador de empresas, Steinbruch virou alvo de grupos interessados em suas participações. Tinha o sonho de fundir a CSN e a Vale numa única empresa, mas endividou-se ao acreditar na estabilidade do real. Estimativas de mercado dão conta de que o grupo Vicunha – empresa das famílias Steinbruch e Rabinovich, dona das ações na CSN, Vale, entre outras  – tem uma dívida de R$ 700 milhões. O caminho natural é vender uma das grandes participações para zerar o passivo.

Clone da Vale

Embora o grupo Vicunha diga que possa suportar o assédio por mais de um ano, o novo desempenho da indústria de aço depende dos passos de Steinbruch. Mas já há quem tema que a empresa seja vendida integralmente. Se a Thyssen levar todo o pacote, Streinbruch estaria criando um rival para a sua própria Vale do Rio Doce. Os alemães já são fortes produtores do minério de ferro no Brasil, pois detêm o controle da mineradora Ferteco, cuja a produção alcança os 20 milhões de toneladas. Vai se somar, então, à Casa de Pedra, a mina de ferro da CSN, onde são extraídos 11 milhões de toneladas. “Tudo na Vincunha está à venda, menos minha mulher e minhas filhas”, completa Jacks Rabinovich, controlador do grupo fundado em 1968 por ele e Mendel, pai de Benjamin, já falecido. “É tudo uma questão de preço. Queremos o justo e mais um pouco”. (André Vieira)

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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