Há 100 anos na bolsa, Alpargatas nunca captou recursos no mercado

Data Original: 08/05/2013
Postado em: 17 de dezembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Reportagens - Valor Econômico

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A Alpargatas, fabricante das sandálias Havaianas, de calçados esportivos e dona da grife de moda Osklen, está completando cem anos na bolsa. Nunca captou dinheiro com investidores, mas um século no mercado trouxe ganhos.

A empresa, fundada em 1907 pelo escocês Robert Fraser, quando a população brasileira contava 17,3 milhões de habitantes, dos quais 11 milhões viviam no campo, financiou sua expansão e aquisições com capital próprio e empréstimos bancários.

Embora até hoje não tenha se beneficiado da prerrogativa mais óbvia entre as empresas cotadas em bolsa, que é a de captar dinheiro nela, os cem anos vividos no mercado trouxeram ganhos. A empresa, diz seu presidente Márcio Utsch, construiu um sistema de gestão mais eficaz, com maior controle das contas, e ficou sujeita a risco menores no que diz respeito ao custo de capital. E há planos de captar recursos na bolsa? É sempre uma possibilidade, diz ele.

O documento de registro com a data exata em que as ações da Alpargatas foram negociadas pela primeira vez não existe mais. Tampouco aquela empresa. A Alpargatas que se conhece hoje, com receita líquida de R$ 3 bilhões em 2012 e negócios em 86 países, foi forjada há menos de uma década.

A empresa está estruturada em três pilares: calçados de moda (Havaianas e Dupé), calçados esportivos (Rainha, Topper, Mizuno e Timberland) e agora, com a aquisição da marca Osklen, em outubro de 2012, tem o pilar da moda de luxo. “Nosso crescimento para o futuro deverá vir dessas três janelas. Não haverá outras”, diz Utsch.

A partir de 2007, com as sandálias de borracha Havaianas desfilando nas passarelas de moda, a empresa deu início à expansão internacional. Usando o Brasil como base de produção, onde tem três fábricas, começou a negociar no exterior canais para distribuir as marcas Havaianas, Dupé, Rainha, Topper e Sete Léguas.

A primeira operação de distribuição ocorreu no mercado americano, de forma compartilhada, em 2007. Tempos depois, na visão da companhia, essa estratégia seria considerada um erro, por haver muita interferência dos sócios locais. O processo de expansão na Europa, que veio na sequência, se deu de maneira diferente, com a aquisição integral de empresas distribuidoras desde o início.

A Alpargatas está em 86 países. Os últimos mercado em que a companhia entrou, em 2012, foram a China, o Paquistão e a Índia. Nesses países, distribuidores locais compram as sandálias e as revendem a varejistas.

A expansão da empresa daqui em diante poderá vir do crescimento orgânico, da entrada em novas categorias, novos mercados ou por aquisições – como foi o caso da Alpargatas Argentina e da Osklen. “Nunca vamos comprar empresas motivados por sinergia. Nosso foco são as competências. Na Osklen, tínhamos interesse em entender a gestão das coleções e de que forma isso poderia agregar conhecimento ao nosso negócio”, diz o presidente.

Desde 2003, o grupo Camargo Corrêa controla a Alpargatas. Com sua estratégia de diversificação, tornou-se acionista da companhia na década de 1980. Nos anos 90, teve como sócios Bradesco e Previ. Em 2010, 8% das ações da Alpargatas estavam nas mãos de acionistas estrangeiros. Em março deste ano, essa fatia subiu a 16%.

“Há pouco mais de uma década, era escassa a presença de investidores estrangeiros e o mercado era concentrado em poucas opções de papéis”, diz o presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) Nacional, Reginaldo Alexandre.

Há cem anos, ações como as da Alpargatas e da Cia. Melhoramentos e Companhia de Força e Luz, entre outras, eram negociadas na base do grito. “Havia um leilão simultâneo, entre 14 horas e 14h30. O mercado contínuo, como se conhece hoje, começou depois de 1967. No dia seguinte, os jornais publicavam os resultados”, diz o historiador e ex-corretor na Bolsa de Valores do Rio, Ney Carvalho. Hoje, a informação é liberada em fração de segundos. (Por Andréa Licht)

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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