Minoritário testa força na Petrobras

Data Original: 14/03/2012
Postado em: 17 de dezembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Reportagens - Valor Econômico

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A assembleia de acionistas da Petrobras da próxima segunda-feira promete emoção. Pela primeira vez na história da empresa, minoritários nacionais e estrangeiros estão se organizando para assumir as duas vagas no conselho de administração da estatal dedicada a investidores de mercado.

Além do ineditismo, os números por trás da Petrobras tornam a iniciativa mais marcante. Trata-se da maior companhia do mercado brasileiro, avaliada em R$ 315 bilhões – ou 12% da capitalização bursátil nacional, de R$ 2,5 trilhões. As ações da estatal representam 10,2% do Índice Bovespa. Por isso, o que acontece com a empresa influencia diretamente todo o mercado nacional.

Os cargos são ocupados hoje pelos empresários Jorge Gerdau Johannpeter, controlador da Gerdau, e Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar e dono da Coteminas – que sucedeu Fabio Barbosa. Historicamente, os nomes eram indicados pelos fundos de pensão, com destaque para Petros (dos funcionários da própria Petrobras) e Previ (dos empregados do Banco do Brasil).

Desta vez, estão à frente da iniciativa o maior minoritário da Petrobras, a gestora de recursos BlackRock, detentora de 5% das ações preferenciais (sem voto), equivalentes a 2,15% do capital total, e a gestora de recursos original do Rio de Janeiro Polo Capital – ambas da Associação Nacional de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), que tem coordenado a divulgação das iniciativas. Também haverá indicação de dois nomes ao conselho fiscal.

A organização de minoritários da estatal não é simples, pelos volumes financeiros envolvidos. Isso ajuda a entender por que durante tanto tempo nenhuma iniciativa semelhante aconteceu, deixando a questão para as fundações.

O momento da indicação é emblemático e tem relação com a percepção dos investidores de um aumento da influência do governo na companhia. O principal episódio que frustrou o mercado foi a megacapitalização de 2010, de R$ 120 bilhões, e que levou à ampliação da fatia da União Federal no capital votante da companhia para 65,4%.

O comportamento do valor de mercado da Petrobras é um sintoma de como o episódio influenciou a avaliação da companhia – bem como de todo o mercado brasileiro. A Petrobras vale hoje em bolsa menos do que os cerca de R$ 350 bilhões que valia em abril de 2009, antes de o governo anunciar a capitalização.

As vagas no conselho pleiteadas pelos minoritários são de dois tipos: para os donos de ações ordinárias (com voto) e para os detentores de preferenciais. O cargo dos ordinaristas está praticamente garantido, uma vez que não há exigência de percentual mínimo. Já o posto dos preferencialistas depende da obtenção de votos equivalentes a 10% do capital total – ou seja, é necessário reunir mais de R$ 30 bilhões aplicados na empresa.

Embora os nomes não constem da documentação oficial da Petrobras para os acionistas, os gestores de recursos – tanto doméstico quanto estrangeiros – receberam uma carta apresentando os candidatos, enviada pela Amec.

A expectativa é que a estatal coloque as indicações no sistema eletrônico para o encontro de acionistas, o Assembleias Online, e que um advogado seja contratado para fornecer procurações com os nomes dos candidatos.

Para a vaga dos ordinaristas no conselho de administração, o indicado é Mauro Rodrigues da Cunha, vice-presidente da Amec e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), e para o posto dos preferencialista, o nome sugerido pela BlackRock é do gestor de recursos Francisco Carlos Drohojowski. Para os cargos no conselho fiscal, os indicados são Marcos Duarte, sócio e gestor da Polo Capital e também vice-presidente da Amec, e Reginaldo Alexandre, presidente da associação de analistas de São Paulo (Apimec-SP). Procurados, Rodrigues da Cunha e Marcos Duarte preferiram não comentar o tema.

A mobilização em torno das vagas teve início no fim de 2010, quando da indicação de Josué Gomes da Silva para uma das vagas, após a renúncia de Fabio Barbosa. Minoritários estrangeiros que votaram por procuração no empresário, liderados pela gestora britânica F&C Investiments, enviaram uma carta ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, também presidente conselho de administração da estatal, com queixas a respeito do processo de eleição e colocando a expectativa de transparência sobre essa vaga na assembleia anual. As reclamações estavam concentradas na falta de clareza sobre Gomes da Silva e sobre como funciona a indicação dos minoritários.

Além da participação de estrangeiros, que têm desafios burocráticos, o sucesso da empreitada depende de Petros e Previ, que podem ou não lançar chapa concorrente na assembleia, bem como do apoio de instituições nacionais e internacionais que estão no Brasil.

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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