Com pique para surfar, praticar hipismo e jogo de cintura na política, o empresário conquista a América e quer fazer da sua siderúrgica uma potência mundial
JORGE GERDAU JOHANNPETER NÃO ESPERAVA a homenagem. Mas atendeu prontamente ao convite do presidente chileno Eduardo Frei, para subir ao palanque_ e· encerrar a entrevita a imprensa, naquela fna manhã de 16 de Junho, em Santiago. Em clima de fim de mandato (a eleição ocorre no final de 1999), Frei comemorava os US$ 8 bilhões de investimentos estrangeiros que aportaram em seu país no último ano. Destes, US$ 100 milhões foram desembolsados na construção da siderúrgica Aza Colina, da Gerdau, que começou a operar naquela data, com capacidade anual de 360 mil toneladas de aços longos. “Falei dos valores éticos no meu discurso”, diz Gerdau. Frei rompeu o protocolo outras duas vezes, o que só deixou mais engrandecido este carioca – “Mas com alma gaúcha” – de 62 anos, quase 30 deles à frente do Gerdau, um dos maiores grupos brasileiros de siderurgia. Deferências que entraram nos registros deste empresário acostumado a lidar com o poder – de João Goulart a Fernando Henrique Cardoso, ele conheceu todos os presidentes brasileiros – e disposto a estender os domínios de sua siderúrgica para toda a América.
REDE AMERICANA
Nem bem descerrou aplaca de Aza Colina, sua sexta fábrica fora do Brasil e a segunda no Chile, Gerdau teve fôlego para anunciar a construção de uma nova siderúrgica na América do Norte, a se somar às duas empresas no Canadá. Além de desmentir os boatos cada vez mais insistentes da compra da Companhia Siderúrgica Nacional ( CSN) e comunicar um aporte de capital de US$ 170 milhões na Açominas, o que deve aumentar a participação do seu grupo de 17,5% para 25%, ainda neste ano.
“Estamos construindo uma rede no continente americano para enfrentar a globalização. Precisamos ser fortes da Terra do Fogo ao Alasca”, afirma o terceiro dos quatro filhos de Curt Johannpeter e Helga Gerdau e, desde a década de 70, presidente do grupo. A sucessão contrariou o convencional nas empresas familiares, qual seja, de colocar o primogênito no principal cargo de comando. “Advogado e com formação em contabilidade, Jorge era o mais preparado’; afirma um consultor especializado em sucessão familiar. Gerdau quer ser grande no continente para não acabar engolido por seus pares mundiais. A antiga Fábrica de Pregos Pontas de Paris, fundada em 1901 pelo bisavô João Gerdau, produz atualmente 4,8 milhões de toneladas de aços por ano. A líder mundial Nippon Steel atingiu 26,9 milhões de toneladas em 1998.
Equivale à toda produção nacional. O plano do empresário é estar entre as 20 maiores siderúrgicas no próximo milênio (hoje ocupa a 35• posição). “Com os menores custos de produção’: faz questão de frisar este liberal de carteirinha, que tem o filósofo austríaco Karl Popper como leitura obrigatória. NA ONDA. Fôlego para os ne gócios, fôlego nos esportes. O hipismo vem em primeiro lugar e o leva a competições desde os 9 anos de idade, quando saltou pela primeira vez no Country Club de Porto Alegre. O surfe ainda rola sobre “pranchões’; nas praias de Santa Catarina. “Depois de enfrentar as ondas, não há plano ou pacote econômico que assuste”, brinca ele, que, junto com o irmão Frederico, foi um dos prin1eiros a usar pranchas do Havaí. As legítimas. A paixão pelos exercícios é tanta que após a inauguração da fábrica chilena, Gerdau deu uma esticadinha até a Alemanha para participar de uma feira anual de cavalos. Decerto, para alguma “comprinha” para seu haras no Rio Grande do Sul, onde cria a raça holstiner.
“O esporte aperfeiçoa a competitividade e prepara para enfrentar desafios. É a psicose de bater recordes”, define o principal representante da quarta geração da família do – ou de – aço. “Sou um ser competitivo e fanático pela qualidade.” Desde os 14 anos na empresa (assim como os seus três irmãos, ele começou a trabalhar nas férias escolares), Gerdau assumiu apresidência quando a produção batia em 1 milhão de toneladas de aços longos anuais e a atuação estava restrita ao território nacional. No ano passado, o grupo faturou R$ 2,27 bilhões, com lucro líquido de R$ 205,8 milhões, 50,9% maior do que o registrado em 1997. Quase 20% do resultado veio das unidades localizadas no exterior.
Apesar da produção mundial ter sofrido queda de 2,5%, segundo o International Iron & Steel Institute, as vendas da Gerdau cresceram 4,7% no Brasil e 4, 1 % no exterior. As cotações em Bolsa refletem o bom desempenho ( veja gráfico). Em março último, o empresário fez soar o sino que inicia o pregão da New York Stock Exchange, num ritual que marcou a estréia da empresa na Bolsa norte-americana. E as ações decolaram. “Há espaço para mais valorização’; avalia Reginaldo Alexandre, analista do Banco BBA. Em janeiro de 1998, o lote de mil ações era negociado a R$ 19. A crise asiática e retração no mercado p11,'<aram a ação para abaixo dos R$ 10 no final do ano passado. Na última semana de junho, no entanto, o lote era cotado a R$ 28, Entre as razões para a alta, destacam-se a demanda por materiais de construção civil e por investimentos em infra-estrutura. Foi no final de 1996 que as ações ganharam atratividade. Numa reestruturação acionária, a empresa acabou com as “partes beneficiárias”. Por esse mecanismo, a família ficava coml0% do lucro líquido antes de distribuir dividendos aos demais acionistas – hoje, são 83 mil.
EM ACÃO
Homo politicus Gerdau é por natureza. No cenário nacional, coordena a Ação Empresarial. Trata-se de um movimento criado durante a revisão constitucional, em 1993, pelos maiores grupos privados, cuja principal bandeira é a reforma tributária. “Políticos e empresários são animais intuitivos e competitivos’; afirma, com a cancha de quem já foi cotado diversas vezes para assumir ministérios – o 1ütimo foi o da Produção, a tumultuada pasta que o presidente Fernando Henrique pensou em criar para Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Nunca aceitou, nem parece estar nos seus planos fazê-lo: “Tenho ação política sem ser político”. A cadeira de empresário lhe é mais confortável. “Tenho pena dos políticos, eles não donos da sua vida’: diz. Da sua disputada agenda, ele estima dedicar entre 20% e 30% aos interesses públicos (sem esquecer os 10% para o hipismo). Aqui se encaixam a presidência da Fundação Iberê Camargo – ele é fã do pintor gaúcho – e da Associação Qualidade RS. “O tempo de espera nos hospitais públicos gaúchos caiu para 13 minutos desde que assumi”, afirma, orgulhoso.