Uma tarefa difícil tem o BNDES pela frente na área da petroquímica. O setor cresceu de forma desorganizada com o beneplácito do governo. A indústria brasileira está longe da escala de produção dos grandes grupos internacionais.
Pior, montou-se ao longo dos anos um emaranhado de participações tão intrincado em tomo do principal pólo, em Camaçari, na Bahia, que só mesmo com muito boa vontade será possível desatar o nó.
O BNDES vislumbra um cenário a curto prazo onde predominem dois grandes pólos de capital nacional no País. O da Copene (justamente em Camaçari) e o da Copesul, no Rio Grande do Sul. Um terceiro pólo surgiria a médio prazo no eixo São Paulo (Pq U) – Rio de Janeiro ( está programado para ‘ 2002/2003 para produção de plástico).
A indústria seria verticalizada nos dois principais pólos. Em uma mesma empresa se agregariam as satélites que gravitam hoje em tomo da Copene, produzindo tipos de insumos diferentes e tendo proprietários diferentes. E um verdadeiro xadrez (ver quadro). As conversas com os grupos interessados começaram há algum tempo mas ninguém sabe hoje até quando vão se arrastar. Não há dúvida de que o BNDES tem créditos que somam R$ 2 bilhões junto ao setor. É um importante trunfo para induzir a mudança.
“Não queremos apoiar nenhuma planta nova dentro da atual estrutura, mas estamos dispostos a entrar com novo financiamento a partir de uma reestruturação”, indicou a esta coluna o superintendente da área de operações indústriais, Carlos Gastaldoni. Sabe-se que a Odebrecht, principal empresa do setor, está disposta a sair da Triken, produtora de insumos à base de cloro e sódio que detém 16% do capital votante da Norquisa, controladora da Copene. Não é mau negócio para a Odebrecht. Afinal, a Triken tem baixa rentabilidade e carrega uma dívida de mais de R$ 1 bilhão.
O grupo Ultra é tido como o forte candidato a assumir o controle da Copene. Ocorre, porém, que a rede de interesses é imensa. Quem pular fora, obviamente, vai querer receber algum por isso. É preciso refazer o acordo de acionistas e definir o papel da Petroquisa na nova estrutura. Estaria ela disposta a permanecer na Copene, aportando novo capital?
Estaria o BNDES disposto a receber as NTN da privatização que a Petroquisa tem em carteira (são cerca de 5 bilhões de papéis, rendendo 6% ao ano) como pagamento de parte dos créditos que tem com o setor? Essas são algumas dúvidas relevantes. Mas não são as únicas. Há outro ponto a ser equacionado que, pasmem, envolve o Banco Central.
Trata-se do que fazer com a Econômico Empreendimentos, uma empresa cujos ativos estão sob a administração do BC desde que o Banco Econômico desapareceu, no, segundo semestre de 1995. A Econômico Empreendimentos detém 64% das ações da Conepar, que por sua vez, através da Petronor, é a maior acionista da Norquisa. O BC já tentou leiloar a Econômico Empreendimentos vária vezes no passado, sem sucesso.
Tudo se complicou no final do ano passado quando a Odebrecht adquiriu a participação do American Express Bank na Conepar (36% ), passando a ter direito de preferência na venda do controle da empresa. “A Odebrecht ficou com essa carta na manga, isso é um complicador para o modelo de reestruturação que o BNDES tem na cabeça”, observa Reginaldo Alexandre, especialista em “equity research” no setor de petroquímica do Banco BBA Creditanstalt.
Como não bastasse, há ainda outros aspectos relevantes que estão obscuros. Por exemplo, que destino se reserva à refinaria Landulpho Alves, da Petrobras, que alimenta de nafta a Copene? Agora que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) acenou com a venda de parte das refinarias da Petrobras, nada mais lógico do que integrar aquela unidade à estrutura da Copene. E o que acontece com a maioria dos grandes grupos internacionais do setor petroquímico. Muitos atuam desde a ponta da exploração de petróleo até a confecção dos materiais plásticos mais sofisticados.
Antecipam-se, pois, aqui alternativas para o destino da Landulpho Alves. Sua venda, se decidida, faria parte de um acordo direto entre Petrobras, BNDES e os sócios da Copene? Estaria sua absorção relacionada às negociações envolvendo a presença da Petroquisa na Copene? Ou seria a refinaria levada à venda em leilão, de forma transparente? Os planos do BNDES podem ser atropelados pela dinâmica do mercado. Os setores de petróleo e de petroquímica são focos potenciais do interesse do capital estrangeiro. Não é para menos. Dados do BBA mostram que o consumo doméstico de plástico dobrou em dez anos no Brasil. Em 1990 era de 10,2 quilos por ano, per capita. Em 1997 passou para 18,8 quilos per capita. “O plástico está presente em tudo, seu consumo cresce no Brasil e na Argentina acima do PIB”, arremata Alexandre. (Maria Clara R. M. do Prado)