O americano Robert Hinchcliffe não fala português e nunca esteve no Brasil. Isso não o impede, no entanto, de fazer parte da lista dos dez melhores analistas do mercado financeiro do País. Isso mesmo. O gringo Hinchcliffe não é uma exceção. Ele é a regra. Os estrangeiros são maioria no ranking dos dez melhores analistas de ações de companhias nacionais, recém elaborado pela Ibmec Business School, escola de MBA dos economistas Cláudio Haddad e Paulo Guedes. Apenas quatro brasileiros fazem parte da nata dos profissionais destacados entre 133 analistas pesquisados pela Ibmec.
Os outros seis, como Hinchcliffe, nasceram e trabalham lá fora. Será possível? A nova lista dos Top 10 mostra que sim. No mundo das informações em tempo real, não importa onde está o analista, mas sim o que ele vê nas companhias estudadas. “O segredo é analisar não só as empresas brasileiras, mas estar atento ao que suas principais concorrentes estrangeiras estão fazendo”, diz Hinchcliffe, sexto colocado no ranking. Ele trabalha na Societé Générale, em Wall Street, e acompanha as siderúrgicas da América Latina. E dispensa os gráficos de tendência de preços para tomar decisões.
“Atenho-me apenas aos fatos”, afirma. Vale a pena prestar atenção em suas dicas. Afinal, as ações sugeridas pelos bambambãs, segundo a Ibmec, valorizaram-se 82,02% no segundo trimestre deste ano, em média, bem acima da rentabilidade geral da pesquisa (22,34%). No período, o Ibovespa teve alta de 8,7%. Hinchcliffe emplacou 72,56%. Hoje, uma das suas principais apostas é a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST). “Os preços da lâmina de aço devem subir 30% até o ano 2000, permitindo que a ação da empresa valorize em até 25% nos próximos 12 meses”, calcula. Para o segundo colocado, o americano Mauricio Reveco, da Salomon Smith Barney de Nova York, uma boa aposta é a Usiminas. “A Usiminas foi obrigada a assumir uma dívida de US$ 650 milhões da Cosipa, mas nem por isso teve sua imagem arranhada”, afirma. “Com a recuperação da economia brasileira e seu plano de investimento concluído, certamente vai ser beneficiada.”
Bancada internacional
Para confeccionar o ranking, a Ibmec acessou o banco de dados do International Brokers Estimate System (IBES), balcão internacional de análises de ações. Todo analista que deseja que seu desempenho seja comparado com o de outros profissionais envia suas recomendações para o IBES. Na última pesquisa, os brasileiros eram 53% dos 113 analistas especializados em Brasil. Das 27 instituições participantes, 13 têm operações por aqui.
Os brasileiros são minoria no pódio, mas não fizeram feio. Ao contrário, brilharam em primeiro, quarto, quinto e oitavo lugar. Em meio à forte volatilidade na bolsa, as indicações de Reginaldo Alexandre, do banco BBA, valeram ouro. Ele recomendou a compra das ações da Gerdau e da Usiminas e obteve retorno de 103,19%, liderando o ranking dos Top 10. “São duas empresas que têm um enorme potencial de crescimento”, aposta Alexandre, que está há dez anos no mercado e já passou pelo Citibank e pelo Unibanco. O vencedor está particularmente entusiasmado com o desempenho da Gerdau.
“O preço do papel está injustificadamente baixo. Está sendo negociado com um desconto de 35% em relação às demais empresas do setor”, calcula. A companhia gaúcha, líder no segmento de aços longos, utilizados pela construção civil, deve faturar com os investimentos feitos por empresas recém-privatizadas das áreas de telecomunicações, energia e transportes. Outro que garimpa preciosidades no setor siderúrgico é Daniel Baldin, quinto colocado. A.o 23 anos e recém-formado pela Fundação Getúlio Vargas, ele trabalha no Banco Fator há dois anos. Uma de uas recomendações é manter na carteira das ações da Cosipa. “O preço está baixo demais. Não vale a pena vender.” Seu colega Thomas Souza, da Merrill Lynch, prefere as ações da Aracruz Celulose. “Ela se beneficiou com a desvalorização do real duplamente”, diz Souza, que ficou em quatro lugar. (Lucia Kassai)