Pesquisa aponta empresas sem interesse em suas ações

Data Original: 07/03/2001
Postado em: 27 de outubro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Estadão - Reportagens

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A Bolsa de Valores de São  Paulo (Bovespa) conta com uma fatia significa­tiva de empresas pouco compro­ metidas com o mercado, ou que não precisam mais dessa fonte de recursos. A conclusão é de es­pecialistas do setor, após análi­se da parcela de ações das com­panhlas em circulação – conhe­cida como “free float”. Pesquisa realizada pela Eco­nomática (www.economatica. com) mostra que, de 273 empre­sas avaliadas, mais da metade (55%) possui “free float” abai­xo de 30% do total de ações. E apenas 27 têm mais de 70% de seus papéis disponíveis para nego­ciação na bolsa.

O estudo é ba­seado em dados fornecidos pelas próprias compa­nhias nos últi­mos informati­vos anuais dispo­níveis, referentes a 1999. “Em geral, as empresas que possuem ‘free float’ baixo não precisam acessar o mercado de capitais. Não necessitam desses recursos para investir”, disse o chefe de análise da Itaú Corre­!Ora, Reginaldo Alexandre. Os especialistas lembram que muitas companhlas decidi­ram abrir o capital entre as dé­cadas de 70 e 80, quando o Bra­sil contava com inflação muito alta.

Nessa época, as captações pelo mercado aberto eram con­sideradas uma maneira barata de pagar dívidas e obter financiamentos. Esse fato fez com que muitas companhlas não de­senvolvessem uma cultura de mercado. Alexandre lembra ainda que, em alguns casos, o número re­duzido de ações em circulação pode refletir a existência de um controlador estrangeiro: ”Histo­ricamente, o governo saiu de uma série de negócios, poste­riormente assumidos por em­presas estrangeiras que opta­ram por fechar o.capital ou lan­çar recibos no exterior”. Segundo ele, muitas compa­nhias não fazem questão de que as ações reflitam o real valor de seus negócios.

”Dessa forma, os controladores podem usar o pre­ço baixo de seus papéis para rea­dquiri-los.” O fechamento de ca­pital é o principal risco aponta­do pelo mercado em conseqüên­cia dessa estrutura. O “free float” reduzido abriria espaço para que essas empresas deixas­sem de negociar em bolsa. “Esse cenário é típico de mer­cados emergentes, o que defini­tivamente é ruim”, completou o  estrategista para América La­tina da Salomon Smith Bamey, em Nova York, Geoffrey Den­nis. Ele acrescen­tou que muitas das empresas com free float baixo possuem controle familiar e são, tradicional­mente, menos transparentes.

De acordo com Dennis, o número de ações em circulação no mercado vol­tará a crescer. Para isso, a Bo­vespa conta com alguns impul­sos, como a adoção de práticas de govemança corporativa pe­las empresas. ”Essa mudança, no entanto, virá somente no lon­go prazo”, disse. Na opinião de Dennis, ou­tros fatores que devem contri­buir para o crescimento do mer­cado são a venda de ações deti­das por famílias controladoras, a entrada de novos fundos de pensão e a diminuição dos cus­tos de negociação no Brasil.

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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