Ponto de partida: O grupo Gerdau cresce e lucra como nunca

Data Original: 09/02/2000
Postado em: 5 de novembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Exame - Reportagens

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NUMA MANHÃ GELADA DE março de 1999, Jorge Ger­dau Johannpeter, presiden­te do grupo que é o maior produtor de aços longos na América Latina, vestiu um temo azul-marinho e se dirigiu para Wall Street, o centro financeiro mundial. Às 9 e meia, Ger­dau tocou o tradicional sino que abre o pregão da Bolsa de Valores de Nova York. Simbolicamente, ele assinalava a inclusão dos títulos do grupo gaúcho Gerdau, dono de um faturamento de 4 bilhões de dólares, na maior bolsa de valores do mundo. Os últimos meses foram excepcio­nais para os negócios de Jorge Ger­dau. Suas ações cotadas nos Estados Unidos valorizaram mais de 250%.

Isso, apesar da falta de charme de se­tores como o siderúrgico. Em 1999, o grupo cresceu e lucrou como nunca em sua história (veja quadro). O Ger­dau aumentou sua participação na Açominas e comprou a siderúrgica americana Ameristeel. Em apenas um ano, subiu 20 posições na lista do Ins­tituto Internacional de Ferro e Aço e passou a ser o 26º maior grupo no mundo da siderurgia. São conquistas importantes. Mas o fato é que hoje elas representam ape­nas o ponto de partida para a sobrevi­vência do negócio. Aos 64 anos, Jorge Gerdau chegou a uma espécie de en­cruzilhada. Seu grupo, com sede em Porto Alegre e controlado há décadas pela família, atua num setor que cami­nha a passos largos para uma concen­tração, a exemplo do que já ocorre com as áreas de telecomunicações e petro­química.

As cinco maiores fabricantes são responsáveis por mais da metade do aço produzido no mundo. Em 1998, a sul-coreana Posco, maior siderúrgica do mundo, apresentava um volume de produção cinco vezes maior que o do Gerdau. O grupo não tem alternativa senão crescer – rapidamente. A pri­meira questão é como. A segunda é até quando seus acionistas terão fôlego pa­ra manter sua expansão. “Eu levo essa pergunta comigo, e não existe uma res­posta absoluta”, diz Jorge Gerdau. A estratégia de crescimento mais vi­sível do grupo até agora é a internacio­nalização. Desde 1983, ano em que as­sumiu a presidência no lugar de seu pai, Curt Johannpeter, Jorge Gerdau vem tentando acelerar esse processo. Sob sua gestão, o grupo, que já opera­va no Uruguai, passou a produzir tam­bém na Argentina, no Chile, no Cana­dá e nos Estados Unidos. As feições multinacionais do Gerdau são resulta­do de uma sufocante pressão no mer­cado brasileiro. Com nove usinas no país, o grupo tem cerca de metade do mercado na­cional de aços longos. O domínio quase absoluto sobre esse setor prati­camente anulou a possibilidade de no­vas aquisições no Brasil.

“Resta ao Gerdau crescer no exterior e passar a produzir outros tipos de produto no país”. diz Alexandre Torrano, analista do banco Sudameris . A maior investida do Gerdau aconte­ceu no ano passado, quando seus acio­nistas tentaram comprar os 18% de par­ticipação que o grupo Vicunha, representado pelo empresano Benjamin Steinbruch, mantém na CSN. Jorge Gerdau teria desistido -temporariamente -da compra ao desconfiar que Steinbruch não estava seguro de querer vender ou não seu quinhão. Conforme a negociação se arrastava, o valor da participação subia, e o negócio deixou de ser atraente aos olhos de Gerdau, não fazemos investimentos caros nem errados”, diz ele. “Temos um compro­misso com nossos acionistas.”

Diante do fracasso nas negociações, grupo partiu para tornar-se o maior acionista da Açominas, localizada em Ouro Branco, Minas Gerais. O passo seguinte, dado há quatro meses, foi a compra da Ameristeel por 262 mi­lhões de dólares. Com quatro usinas e 18 unidades de transformação finca­das no maior mercado consumidor do mundo, a Ameristeel abriu novas pos­sibilidades para o grupo gaúcho. A começar pelo acesso mais fácil a capital barato. “O Gerdau pode captar recursos lá fora a um custo pequeno, o que lhe permite competir em condições de igualdade com os grandes campos in­ternacionais”, diz Reginaldo Alexan­dre, analista do banco BBA-Icatu, do Rio de Janeiro. Essa possibilidade pode ser a diferença entre viver e morrer. Só se mantém vivo na competição quem pode aportar recursos nas mesmas con­dições dos oponentes. Com a porta aberta pela Ameristeel, criou-se a ex­pectativa de mais aquisições no exte­rior. “Não descarto novas compras no mercado americano ou mesmo na Eu­ropa”, diz Torrano, do Sudameris.

Gerdau e seus irmãos – Ger­mano, Klaus e Frederico – ainda sonham em expandir seus domínios no Brasil com a compra de parte da CSN, embo­ra disputem a empresa com interessa­dos do peso de Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim. Têm planos também de reativar o projeto de uma laminadora que estava previsto para começar a operar este ano no Rio Grande do Sul e que foi suspenso de­pois que a Ford desistiu de instalar sua nova fábrica no estado. O grupo é tam­bém o maior reciclador de sucata da América Latina. Isso significa ter o controle sobre sua principal matéria­ prima. Hoje, 40% do aço no mundo é produzido com sucata. Não é à toa que o Gerdau está atuando tão ativamente para acelerar o acordo do governo com as montadoras para renovação da frota de veículos. “Estamos prontos para nos encaixar nessa cadeia”, diz ele. “Te­mos interesse em participar desse pro­grama porque aumenta a geração de sucata. É um fator decisivo na nossa competitividade.”

Sob o comando de Jorge Gerdau, um advogado aficionado por cavalos e hipismo, o grupo jamais apresentou prejuízos. Terceiro de quatro filhos, Jorge foi escolhido para liderar o gru­po graças à sua maior capacidade de liderar pelo consenso. “Nossas deci­sões sempre buscam um equilíbrio en­tre rentabilidade e crescimento”, diz ele. “Se você crescer sem rentabilida­de, dá o último passo.” Resta saber se o grupo Gerdau conseguirá manter es­se equilíbrio em tempos em que a ve­locidade de crescimento é um fator de­cisivo para a sobrevivência. (Suzana Naiditch)

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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