A química do BNDES

Data Original: 14/04/1999
Postado em: 14 de novembro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Dois anos e meio depois da pri­vatização das empresas petro­químicas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) encontrou a fórmula química para enrijecer os mús­culos do setor. Está nas mãos do pró­prio presidente do banco, José Pio Bor­ges, o novo desenho da petroquímica brasileira, segmento que cresce quase três vezes mais do que o Produto Inter­no Bruto (PIB) e movimenta mais de R$ 10 bilhões ao ano.

Como um jogo de xadrez, as peças são mexidas meti­culosamente para evitar conflitos de in­teresses. A pedido dos empresários, o BNDES deve anunciar a fusão dos gru­pos nacionais em dois grandes pólos de produção, juntando as centrais de fabricação de matérias-primas com as empresas de segunda e terceira geração, que fornecem produtos, por exem­plo, às indústrias de plástico. Um deles estará situado na Copesul, na cidade gaúcha de Triunfo.

Lá, já mandam Ode­brecht e lpiranga. O outro ficará em torno da Copene, em Camaçari (BA). A idéia é permitir que as empresas al­cancem escala suficiente para se torna­rem fortes competidoras globais. Quem ganhará espaço é o grupo Ul­tra, do empresário Paulo Cunha, mem­bro do Instituto de Estudos para o De­senvolvimento Industrial (Tedi). Ele de­verá assumir o controle da Copene, a maior central de matérias-primas da América Latina, adquirindo a partici­pação da Odebrecht por intermédio do BNDES. A informação foi confirmada a ISTOÉ por um diretor do próprio ban­co. Fortalecendo seu grupo, Cunha será um dos grandes do setor. Nos encon­tros do Iedi com o presidente Fernando Henrique, em meio à onda de chiadei­ras dos empresários contra a política econômica no final de 1998, ele che­gou a ser sondado para o cargo de mi­nistro da Produção. Cunha não quis as­sumir o risco político, preferindo cui­dar dos próprios negócios.

“Ele tem boas relações com o Planalto e isso deve ter facilitado”, disse um executi­vo que acompanhou as negociações. Procurado, Cunha preferiu não falar. No novo desenho, a Odebrecht deve­rá emagrecer, mas ainda assim manterá sua condição de maior representante brasileira no setor. A empresa foi pega no contrapé da desvalorização cambial. Ti­nha uma dívida de R$ 1,6 bilhão, a me­tade em dólar. Só a Trikem, o braço do grupo no Nordeste, estava com um en­dividamento de R$ 882 milhões. Diante disso, não houve saída senão concor­dar com uma operação de salvamento.

“Foi imposição do BNDES”, diz uma fonte próxima à direção da empresa. Em troca de um empréstimo de R$ 340 milhões a ser liberado pelo banco, a Odebrecht vai aliviar sua situação de caixa, mas será obrigada a sair da Co­pene, entregando sua participação ao Ultra. Não foi a melhor solução para o grupo, mas a mais viável no momento.

Desde 1979, quando escolheu o setor petroquímico para investir, Emílio Ode­brecht era grande timoneiro do merca­do. Começou a incomodar quando pla­nejava ser o gigante do setor, quase ad­quirindo o controle da Copene e assi­nando um polêmico acordo com a Pe­trobras no pólo de Paulínia (SP). “Eles agiam como o sujeito que começa a comprar tudo, mas na hora em que per­de o emprego fica sem renda”, diz Reginaldo Alexandre, analista do Banco BBA. Quem ficou a ver navios foram os estrangeiros, principalmente a Dow Química, que atua há 40 anos no País. Com a intervenção na petroquímica, o governo volta a dar solução aos enros­cas da indústria nacional. É uma his­tória com capítulos já marcados. O BNDES deverá agora se debruçar sobre as indústrias siderúrgicas e de papel e celulose, quando terá de encontrar outra química para estimular a fusão ou asso­ciação de empresas. (André Vieira)

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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