Recompra de ações perde atrativo

Data Original: 11/01/2001
Postado em: 27 de outubro de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Estadão - Reportagens

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As empresas de capital aberto já não tem o mesmo interesse em investir nas suas próprias ações. Dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mos­tram que foram concedidas 36 auto­rizações para recomprar ações no ano passado, número 27% menor que o de 1999, quando foram com­putadas 49 operações. Em 1998, o pior dos últimos anos para os preços das ações negociadas em bolsa, o número de recompras chegou a 133. Em 1997, foram re­gistradas 109 operações. A desaceleração no ritmo das re­compras é prova de que. apesar do mau desempenho da bolsa no ano passado, os preços das ações já não estão mais depreciados como antes.

Dados da Economática, com base em uma amostra de 219 empresas negociadas na Bovespa. mostram que essas companhias fecharam o ano 2000 avaliadas em R$ 312 bi­lhões, o maior dos últimos quatro anos. Em 1997, elas totalizavam R$ 221 bilhões. Caíram para R$ 130 bi­lhões em 1998 e alcançaram R$ 307 bilhões no ano seguinte. As recompras são uma estratégia usual para os momentos de baixa. Se­guras do seu potencial de crescimento e da recuperação dos preços dos pa­péis, muitas companhias utilizam re­cursos disponíveis em caixa para in­vestir em suas próprias ações.

A prática costuma ser bem rece­bida pelo mercado. Ao comprar ações da sua própria emissão, as em­presas contribuem para segurar os preços das cota­ções. Ao mesmo tempo oferecem uma alternativa de liquidez aos investidores. O benefício po­de vir ainda na forma de um valor maior para as ações, se a empre­sa decidir cance­lar os papéis re­comprados ao fi­nal da operação. A redução da base acionária também incrementa a dis­tribuição de divi­dendos, que passa 1997 1998 a ser maior considerando-se a quantia recebida por ação. Brahma, Aracruz, Duratex, Vale do Rio Doce e Companhia Siderúr­gica Nacional (CSN) são alguns exemplos de companhias que costu­mam ir ao mercado comprar suas ações em momentos de baixa.

A Companhia Vale do Rio Doce chegou a pedir autorização para uma recompra no final do ano passado, mas desistiu de seguir em frente com o programa. “As ações reagi­ram antes de iniciarmos a recompra e optamos por continuar apenas mo­nitorando os papéis”, afirma Rober­to Castello Branco, diretor de rela­ções com investidores da Vale. Em 1998, a Vale solicitou três au­torizações para recompra. Naquele ano, as ações da companhia fecha­ram a R$ 13 a unidade. No pregão de ontem, encer­ram a R$ 47,5. Castello Branco não prevê a necessidade de no­vas recompras em 2001. “Estamos otimistas para os preços em bolsa este ano, princi­palmente a partir do segundo semestre”, afirma.

A Companhia Siderúrgica Nacional iniciou um programa de compra em 1994 que durou quatro anos. Desde 199 , não voltou mais ao mercado. Quando iniciou as aquisições, seus papéis e tavam cotados a US$ 15 o lote de mil, contra os US$ 33 atuais. A Light também suspendeu suas operações de recompra desde 1998′. Segundo Paulo Renato Marques, su­perintendente de relações com in­vestidores, as ações da companhia vêm apresentando fonte capacidade de recuperação depois das baixas. “Nossos esforços estiveram volta­dos à renegociação da dívida.” Além da forte queda dos preço em bolsa após a crise russa, as re­compras foram estimuladas pela autorização da CVM para que as em­presas recomprassem até 10% da base acionária, lançada em 1997. Antes, esse percentual era de 5%. Naquele ano, a Latasa foi três ve­zes ao mercado adquirir seus papéis.

Desde então, a companhia não viu mais interesse em recomprar suas ações. “Não havia mais a oportuni­dade e também não tínhamos recur­so para isso”, afirma Flavio Dona­telli, diretor de relações com inves­tidores da Latasa. Nos últimos dois anos, a empresa concentrou esforços na redução do seu endividamento. Rodrigo Pinheiro, diretor de pes­quisa do BES Securities, acredita que a recuperação das cotações não foi o único motivo para que as em­presas reduzissem o ritmo das re­compras. “Muitas passaram a ter re­ ceio ,de prejudicar ainda mais a li­quidez das suas ações”, afirma. A redução no número de recom­pras pode ter tido ainda uma in­fluência da Instrução 299 da CVM, de fevereiro de 1999.

A instrução proibiu as aquisições de ações em mercado para empresas que tenham passado por troca de controle recen­temente ou que estejam planejando uma reestruturação societária. As decisões sobre recompras de ações são tomadas a partir de duas premissas essenciais: disponibilida­de de recursos em caixa e potencial de valorização da ação. Com as pre­visões otimistas para o cenário inter­no em 2000, estima-se que os níveis de recompra não voltem tão cedo aos observados em 1997 e 1998. “Os fundamentos são os melhores que já tivemos, o que deverá fazer sombra para as oportunidades de re­ compra”, .afirma Reginaldo Alexan­dre, analista da Itaú Conetora de Va­lores. “Apesar das incertezas, pode­-se dizer que o cenário atual é bem mais tranqüilo.”

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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