As empresas de capital aberto já não tem o mesmo interesse em investir nas suas próprias ações. Dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que foram concedidas 36 autorizações para recomprar ações no ano passado, número 27% menor que o de 1999, quando foram computadas 49 operações. Em 1998, o pior dos últimos anos para os preços das ações negociadas em bolsa, o número de recompras chegou a 133. Em 1997, foram registradas 109 operações. A desaceleração no ritmo das recompras é prova de que. apesar do mau desempenho da bolsa no ano passado, os preços das ações já não estão mais depreciados como antes.
Dados da Economática, com base em uma amostra de 219 empresas negociadas na Bovespa. mostram que essas companhias fecharam o ano 2000 avaliadas em R$ 312 bilhões, o maior dos últimos quatro anos. Em 1997, elas totalizavam R$ 221 bilhões. Caíram para R$ 130 bilhões em 1998 e alcançaram R$ 307 bilhões no ano seguinte. As recompras são uma estratégia usual para os momentos de baixa. Seguras do seu potencial de crescimento e da recuperação dos preços dos papéis, muitas companhias utilizam recursos disponíveis em caixa para investir em suas próprias ações.
A prática costuma ser bem recebida pelo mercado. Ao comprar ações da sua própria emissão, as empresas contribuem para segurar os preços das cotações. Ao mesmo tempo oferecem uma alternativa de liquidez aos investidores. O benefício pode vir ainda na forma de um valor maior para as ações, se a empresa decidir cancelar os papéis recomprados ao final da operação. A redução da base acionária também incrementa a distribuição de dividendos, que passa 1997 1998 a ser maior considerando-se a quantia recebida por ação. Brahma, Aracruz, Duratex, Vale do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) são alguns exemplos de companhias que costumam ir ao mercado comprar suas ações em momentos de baixa.
A Companhia Vale do Rio Doce chegou a pedir autorização para uma recompra no final do ano passado, mas desistiu de seguir em frente com o programa. “As ações reagiram antes de iniciarmos a recompra e optamos por continuar apenas monitorando os papéis”, afirma Roberto Castello Branco, diretor de relações com investidores da Vale. Em 1998, a Vale solicitou três autorizações para recompra. Naquele ano, as ações da companhia fecharam a R$ 13 a unidade. No pregão de ontem, encerram a R$ 47,5. Castello Branco não prevê a necessidade de novas recompras em 2001. “Estamos otimistas para os preços em bolsa este ano, principalmente a partir do segundo semestre”, afirma.
A Companhia Siderúrgica Nacional iniciou um programa de compra em 1994 que durou quatro anos. Desde 199 , não voltou mais ao mercado. Quando iniciou as aquisições, seus papéis e tavam cotados a US$ 15 o lote de mil, contra os US$ 33 atuais. A Light também suspendeu suas operações de recompra desde 1998′. Segundo Paulo Renato Marques, superintendente de relações com investidores, as ações da companhia vêm apresentando fonte capacidade de recuperação depois das baixas. “Nossos esforços estiveram voltados à renegociação da dívida.” Além da forte queda dos preço em bolsa após a crise russa, as recompras foram estimuladas pela autorização da CVM para que as empresas recomprassem até 10% da base acionária, lançada em 1997. Antes, esse percentual era de 5%. Naquele ano, a Latasa foi três vezes ao mercado adquirir seus papéis.
Desde então, a companhia não viu mais interesse em recomprar suas ações. “Não havia mais a oportunidade e também não tínhamos recurso para isso”, afirma Flavio Donatelli, diretor de relações com investidores da Latasa. Nos últimos dois anos, a empresa concentrou esforços na redução do seu endividamento. Rodrigo Pinheiro, diretor de pesquisa do BES Securities, acredita que a recuperação das cotações não foi o único motivo para que as empresas reduzissem o ritmo das recompras. “Muitas passaram a ter re ceio ,de prejudicar ainda mais a liquidez das suas ações”, afirma. A redução no número de recompras pode ter tido ainda uma influência da Instrução 299 da CVM, de fevereiro de 1999.
A instrução proibiu as aquisições de ações em mercado para empresas que tenham passado por troca de controle recentemente ou que estejam planejando uma reestruturação societária. As decisões sobre recompras de ações são tomadas a partir de duas premissas essenciais: disponibilidade de recursos em caixa e potencial de valorização da ação. Com as previsões otimistas para o cenário interno em 2000, estima-se que os níveis de recompra não voltem tão cedo aos observados em 1997 e 1998. “Os fundamentos são os melhores que já tivemos, o que deverá fazer sombra para as oportunidades de re compra”, .afirma Reginaldo Alexandre, analista da Itaú Conetora de Valores. “Apesar das incertezas, pode-se dizer que o cenário atual é bem mais tranqüilo.”