A provável reestruturação societária da indústria petroquímica brasileira e a desvalorização cambial são as principais alavancas que estão puxando, para cima, as cotações dos papéis das empresas do setor, alguns com alta acima de 500% no acumulado do ano. A valorização deve persistir nos próximos meses, principalmente com o andamento do programa de remodelagem do setor e perspectiva de manutenção da reação dos pre;os dos produtos petroquímicas, em âmbito mundial nos próximos meses.
Ontem, por exemplo, após a notícia de que os grupos Econômico S/A Empreendimentos, Odebrecht Química S/A e Petroquímica da Bahia pediram a suspensão das ações da Trikem, Ciquine e Polialden em Bolsas, em virtude da assinatura de protocolo de intenção de venda destas empresas, os papéis da Copene PNA tiveram alta de 6% no fechamento da Bovespa, depois de chegar a 16% durante o pregão.
Os analistas projetam um novo movimento ,de alta das ações de algumas empresas do setor até o fechamento do ano, porque os investidores estão confiantes de que o andamento gradual da reestruturação do setor deve dar maior grau de eficiência às indústrias petroquímicas, aumentando a possibilidade de ganho de escala e melhoria dos resultados operacionais, informou o analista da corretora Adinvest, Alexandre Carneiro.
COPENE
Nesse sentido, justifica-se a alta da Copene no pregão de ontem, que é a empresa-mãe do Pólo de Camaçari, ou seja, fornece a matéria-prima para as indústrias de segunda geração da base petroquímica baiana, que abriga as três empresas com papéis suspensos ontem. Pelo projeto de remodelagem do setor, a Copene deverá incorporar a Trikem, após a troca de controladores, e ter ganho escala e melhores resultados operacionais.
As operações antecipadas de compras de papéis do setor buscam “um plus” futuro para as posições, em virtude de prováveis ofertas públicas aos minoritários pelos membros de acordo dos acionistas, quando de processos de incorporações e fusões de indústrias petroquímicas, explicam analistas. O objetivo dos investidores é receber oferta acima do valor de mercado das ações.
Tanto que, mesmo sem a reestruturação implementada, levantamento realizado pela Adinvest mostra que, de um conjunto de 14 companhias abertas no setor petroquímico, a grande maioria apresenta expressiva valorização das ações este ano, motivada pela crescente procura.
Apenas os papéis de duas empresas apresentavam queda no acumulado do ano até ontem: Pronor PNA, de 5,2%; e Ciquine PNA, de 16%. Polipropileno PN subiu 20% e Copesul ON, 61,6%. As demais apresentam rentabilidade muito acima do índice ibovespa. As altas mais expressivas estão a cargo da Petroflex PNA e Trikem PN, de respectivamente, 437,5% e 500% pelo lote de mil ações.
No caso da Trikem, produtora de folhas de PVC, a forte valorização está relacionada ao ganho de escala esperado após sua venda, sua provável incorporação, e às boas perspectivas do setor petroquímico, disse Alexandre Cameiro. Já a alta da Petroflex é uma decorrência de, sem concorrência externa, aumentar as vendas de borracha sintética no mercado interno.
Desde que o salto do dólar no início do ano, a participação de mercado das empresas locais melhorou substancialmente, dado o encarecimento dos similares importados. Para os analistas Alexandre Carneiro (Adinvest) e Reginaldo Alexandre, do Banco BBA Icatu, o menor nível de disputa as estrangeiras foi um fator decisivo para que as empresas locais pudessem aumentar o fôlego financeiro e melhorar os resultados operacionais.
Os papéis das indústrias petroquímicas, refletindo o quadro de dificuldades do setor na maior parte da atual década, em virtude da abertura comercial, estavam apresentando for te depreciação, explicou Alexandre Carneiro, levando o Governo, por meio do BNDES, conceder empréstimos pesados para aumentar seu grau de competitividade.
CÂMBIO
A abrupta abertura, lembra Reginaldo Alexandre, fez que o déficit comercial do setor petroquímica saltasse da faixa de US 1,2 bilhão, em 1991, para US$ 6,5 bilhões, no ano passado. Segundo ele, a expansão do déficit aprofundou-se ainda mais com a valorização do câmbio nos primeiros anos do Plano Real, o que fez o market share dos produto estrangeiros crescer muito, pelo barateamento do valor da importação, e, em contrapartida, margem de lucro das petroquímicas locais baixar, para suportar a concorrência de preços.
Com isso, o nível de endividamento dos grupos petroquímicas elevou-se substancialmente, levando o Governo, interessado em recuperar os recursos já alocados, a planejar a modelagem da indústria, exigindo a venda de ativos pelos controladores sem condições de saldar suas dívidas. Segundo os analistas, a percepção do mercado de efetiva execução do programa de reestruturação setorial e o oxigênio dado as indústrias locais, em virtude da desvalorização cambial, estão fazendo alguns investidores antecipar a compra de posições em empresas com maior potencial de ganho, no curto e médio prazos, elevando bastante a cotação dos papéis este ano. (Agner Ricardo)