Vale a regra – Três

Data Original: 28/03/2001
Postado em: 10 de abril de 2016 por: Reginaldo Alexandre
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Carta Capital - Reportagens

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HÁ UMA PORÇÃO DE REGRINHAS PARA SE INVESTIR

no mercado de ações, como se fosse de fato simples ganhar dinheiro nele. Uma delas, a mais clássica, é comprar na baixa para vender na  alta. Um  ótimo  argumento  que hoje seria

capaz de convencer investidores incautos a esvaziar a carteira para enchê-la de papéis de empresas -não fos­ se a dificuldade de saber se estamos mesmo na hora da virada ou se a descida no poço continua. Não fosse, também, a existência de mna outra  regrinha,  talvez  ‘  mais útil, a dos dados. Longe de associar a bolsa de va­ lores à infeliz idéia de cassino (ela é muito  mais  com­ plexa que isso), ressalte-se que a alegoria dos dados de jogos  de azar cabe muito  bem  na atual situação.

“A soma de três dados pode dar 18, como também pode dar 3”. diz Adriano Blanco D’Ercole, operador sê­ nior de renda variável do Banco BMC, para ilustrar de modo bem simples as variáveis micro e macroeconômi­ cas que determinam o comportamento da Bovespa hoje. Ou seja, não adianta apenas um deles dar seis, que no caso seria o dos preços baratos das ações de empresas brasileiras, se os demais dão um, como os da situação econômica externa e o da crise política brasileira, que lança dúvidas sobre a manutenção do atual comando no próximo mandato e, por conseguin­ te, da atual política econômica.

Por situação externa estamos fa­lando da queda no mercado acio­ nário nos Estados Unidos, que não – se lin1ita à Nasdaq (de tecnologia), mas também atinge  a Bolsa de Nova York, indicando que a econo­ mia norte-americana está, no mí­ nimo, se desacelerando. Estamos falando de Japão, onde a crise do­ méstica é aprofundada pelas in­ fluências que sofre dos EUA. E fa­ lando da Argentina, onde a crise econômica, que aprofunda-se nas suas dimensões sociais, é agravada pela instabilidade causada pela demissão do ministro da Economia, Ricardo López Murphy, e cujo con­ tágio ao Brasil pode ser imediato.

“Quando há crise, o investidor estrangeiro vê os mercados emer­ gentes em bloco e há um efeito contágio.  Além  do  que,  o estrangeiro tende a vender ativos para fa­ zer caixa a fim de recompor as per­ das que teve”, diz Alexandre Cam­ pos, gestor de renda variável do ING Investment Management .

APESAR  DE VOCÊ.

Assim,não há bons fundamentos domésti­cos que resistam. E há, de fato, bons ‘ fundamentos. Indicadores macroe­ conômicos como vendas reais, pes- soal empregado, horas trabalhadas e salários líquidos reais, divulgados pela Confederação Nacional da In­ dústria (CNI), apresentaram em ja­ neiro deste ano variações respectivas de  15,81o/o, 2,28%, 7,65% e 7,14% em relação a igual mês do ano passa­ do. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia   e  Estatística   (IBGE), a produção industrial em janeiro cres­ceu 11,2% em relação ao mesmo pe­ríodo de 2000, registrando o melhor resultado do mês desde 1995.

Outro exemplo:  o  coordenador de renda variável da Itaú Corretora, Reginaldo Alexandre, aponta que, por mera observação  dos balanços de 2000 já divulgados, os resultados operacionais das empresas apresen­ tam sensível melhora em relação ao exercício anterior. (Os resultados lí­ quidos não, porque em muitos casos são afetados pela alta do dólar, que onera a dívida das companhias em moeda  norte-americana.)

Além disso, seis especialistas de cinco instituições financeiras con­ cordam com o fato de que as ações brasileiras estão baratas em relação a seus pares de países emergentes e também em relação aos preços  de um ano atrás. Se é assim, por que os papéis nativos não andam, mostran­ do um descolamento efetivo em re­ lação às Bolsas internacionais (ainda mais com a trajetória de juros des­ cendente no longo prazo, apesar do dólar em alta)?

Responde Gilberto Poso, diretor de operações com clientes da Lloyds Asset  Management  (LAM):  a  alta dependência de dinheiro de fora no empresas, não impulsionarem a valorização do Ibo­ vespa é o maior prêmio que passou a ser exigido no mundo para se investir no mercado acionário. “Em­ bora a Bovespa apresente força própria, um de seus principais combustíveis é o investimento  estrangei­ ro”, diz Paes. Até o fechamento desta edição, o Iboves­ pa havia se valorizado  3% no ano.

Se é assim, qual conduta o investidor deve tomar? É claro que a resposta depende do perfil do aplicador. Mas, em geral, os especialistas ouvidos estão pouco otimistas quanto ao curto praw, ou seja, até os próximos dois ou três meses. Para quem não entrou, o ideal seria  esperar.

“Até que essa paranóia seja dissipada, haverá mo­ mentos de tensão”, diz Poso, da LAM. Para os investidores agressivos, que querem aproveitar o período de baixa para arriscar desafiando os prognósticos, ele re­ comenda que entrem com um terço ou, no máximo, a metade dos recursos que pretendiam investir. “En­ quanto a situação estava ruim só na Nasdaq, era uma coisa. Mas, quando atinge o Dow Jones, é outra”, diz. Poso lembra que há um ano este índice não ficava abaixo da barreira psicológica dos 10 mil pontos.

O profissional  diz não  ter observado ainda  o resgate, significativo dos coristas de fundos de ações nem dos in­ vestidores institucionais, mas faz uma ressalva: se o cená­ rio desfavorável perdurar por mais dois meses, a situação muda. Os investidores vão querer se desfazer dos ativos mesmo a preços bastante baixos.

Penteado, da ABN-Amro Asset Management, tam­bém avalia que maio será um momento decisivo  para a Bolsa se recuperar. Ele acredita na retomada da economia norte-ame­ ricana na forma de U, ou seja, hoje ela estaria fazendo a curva para baixo e, depois de atingir o fundo, voltaria a subir. Descarta tanto a previsão otimista do V, em que a recuperação seria mais rápida, como a pessimista do L, em que a descida seria seguida de uma longa estagnação, colocando os países emergentes em péssima situação.

DESAVISADOS. Para o eco- nomista-chefe da Itaú Corretora, Marco  Maciel,  os  investidores que, hoje estão se arriscando a comprar têm procurado aplicar baixas quan­ tias, mas, como a liquidez é pequena, o movimento acaba puxando mo­ mentaneamente o preço de alguns papéis, o que indevidamente anima os investidores desavisados que pensam tratar-se de uma recuperação.

A dica de Reginaldo Alexandre, também da Itaú Corretora, é o in­vestidor levar em consideração a volatilidade dos mercados, que em geral   indicam   nervosismo,  fator de análise  fundamentalista   feita pelos especialistas, na qual são calculados apenas  dados objetivos.

D’Ercole, do BMC, prevê muita volatilidade, mas acredita que no fi­ nal do ano o vetor é positivo, com o Ibovespa atingindo entre 19 mil e 20 mil pontos. “O ideal é tentar acertar o momento de entrar e sair, evitan­ do ficar aplicado durante o tempo todo’:diz. É o que ele faz na condi­ ção de operador da tesouraria do banco, onde tem autonomia para gi­ rar o dinheiro do banco da  forma que achar mais conveniente.

Já os fundos de ações, por especi­ ficações técnicas e de tributação, são obrigados a manter um volume nú­ nimo aplicado na Bolsa, mesmo em situações de perda para o cotista.

 

 

Sobre

Economista, com vinte anos de experiência na área de análise de investimentos, como analista, coordenador, organizador e diretor de equipes de análise, tendo ocupado essas posições, sucessivamente, no Citibank, Unibanco, BBA/Paribas, BBA (atual Itaú-BBA) e Itaú Corretora de Valores. Atuou ainda como analista de crédito corporativo (Citibank) e como consultor nas áreas de estratégia (Accenture) e de corporate finance (Deloitte). Hoje, atua na ProxyCon Consultoria Empresarial, empresa que se dedica às atividades de assessoria e prestação de serviços nas áreas de mercado de capitais, finanças e governança corporativa.

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